30 de março de 2012

Saudação a Lua Nova

Saudações a Lua Nova, que renasce no céu, trazendo sua luz de volta da escuridão!

"Eu te saúdo,
Joia da Noite,
Beleza do Céu,
Joia da Noite,
Mãe das Estrelas,
Joia da Noite,
Filha Adotiva do Sol,
Jóia da Noite,
Majestade das Estrelas,
Joia da Noite."


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*Texto original em Carmina Gadelica, v. III. Tradução de Bellovesos.


**Alguns calendários antigos de origem céltica, como o Calendário de Coligny, indicam que o tempo era medido com base nos ciclos da lua e do sol, e que a lua nova representava o início de um mês, enquanto a lua cheia representava o meio do mês, o ápice. Essas duas fases lunares eram certamente celebradas ou ao menos observadas por, se não todos, a maioria dos povos celtas.

29 de março de 2012

Ritual Solitário Proto-Indo-Europeu (PIE)

Pelo druida Ceisiwr Serith(Tradução de Bellovesos. Postado no blog de Renata Gueiros, Saindo da Bruma)

Equipamento:

Lâmpada de óleo ou uma vela
Fósforos
Oferendas para o Fogo (incenso)
Fonte ("Regwes": Lugar Escuro)
Árvore (um bastão num suporte)
Tigela de água
Tigela de oferendas
Prata (objeto prateado, brinco, moeda ou outro) para a Fonte
Oferenda num jarro (cerveja ou hidromel é mais PIE)
Aspersório

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Preparação

Posicione a Árvore no leste, o Fogo no centro e a Fonte no oeste. Sente-se a oeste da Fonte. Coloque os fósforos e o incenso perto do Fogo e os outros itens à sua frente.


Purificação

Unja sua boca, coração e mãos. A cada vez, diga:

Púros esyém.
[Que eu possa ser puro.]

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O "Ghordhos" [Lugar Fechado]

Fique de frente para o leste e diga:

Deiwons aisyém.
[Desejo honrar os Deuses.]
Estou aqui para honrar os Deuses.
Possa minha adoração estar de acordo com o "artos".

Acenda o Fogo. Diga:

No verdadeiro centro do mundo
Acendo o Fogo da oferenda,
No local onde o divino e o mundano se encontram.
Sob o cuidado da Deusa brilhante,
Sob o vigilante olho de Wesya.

Faça a oferenda ao Fogo, dizendo:

Faço a oferenda ao Fogo do sacrifício.
Que eu possa orar com um bom Fogo.

Ofereça a prata à Fonte, dizendo:

Pelo "Regwes" estou unido ao mundo abaixo.
Água à terra, o "Regwes" expande.

Borrife a Árvore, dizendo:

Pela árvore Sagrada estou unido ao mundo acima.
Terra ao céu, a Árvore expande.

Verta parte da oferenda no jarro para o Guardião do Portal, dizendo:

Akwam Nepot, faço-te uma oferenda.
Possa o caminho estar aberto para os Sagrados.

Faça um triskele em sentido anti-horário, de dentro para fora, sobre a lâmpada, dizendo:

Akwam Nepot, dhwermos Hmé ruyes.
Akwam nepot, abre o portal para mim.

Borrife a área em sentido anti-horário, dizendo:

Meg moris Hmé gherdmi.
O grande mar me circunda.

Quando a aspersão estiver feita, diga:

Meu "ghordos" é sagrado, separado,
Dentro do limite da água circundante.
Sagrado e santo é este meu lugar,
Apropriado para os Deuses entrarem.


A oferenda

Verta a oferenda aos Deuses, dizendo:

Aos Deuses e Deusas eu faço uma oferenda.
Possa haver entre nós os laços da hospitalidade.
Deiwos, te-bhyom gheumi.
[Deuses, verto uma oferenda para vós.]

Verta a oferenda aos Ancestrais, dizendo:

Aos Espíritos dos Ancestrais eu faço uma oferenda.
Possa haver entre nós os laços da hospitalidade.
Wikpoties, te-bhyom gheumi.
[Ancestrais, verto uma oferenda para vós.]

Verta uma oferenda aos Espíritos da Terra, dizendo:
Aos Espíritos da Terra eu faço uma oferenda.
Possa haver entre nós os laços da hospitalidade.
Ansues, te-bhyom gheumi.
[Espíritos, verto uma oferenda para vós.]

Faça uma pausa. Pegue a tigela de oferendas e diga:

Recebo minha parte do sacrifício.

Beba um pouco da oferenda. Coloque a tigela no chão e diga:

Deidades, Ancestrais e Espíritos:
Eu vos dou honra e adoração,
Louvor e reverência.
Possa haver paz e amizade entre nós.
Usmei gwrtins dédemi.
[Eu vos dou graças.]

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Encerramento

Faça um triskele sobre o Fogo, em sentido horário, de fora para dentro, dizendo:

Akwam Nepot, possa o portal ser fechado.

Apague a lâmpada. Fique em pé e diga:

Sigo meu caminho em amizade com as Famílias.

Incline-se uma vez para o leste.



NOTAS:

"Que eu possa orar com um bom fogo": baseia-se no Rig Veda, 1.26.8.

A tradução das linhas em proto-indo-europeu (PIE) é apresentada imediatamente depois. As traduções que não se pretende sejam ditas em voz alta aparecem entre colchetes ( [] ).

A pronúncia do proto-indo-europeu é fonética. As vogais têm seus valores latinos. "Gh", "bh" e "dh" são pronunciados como a consoante inglesa correspondente seguida de um curto sopro de ar. São semelhantes ao "dh" na pronúncia indiana de "Buddha". "H" representa um som de "schwa". O acento marca vogais longas e sílabas tônicas. Ditongos, tais como "ei", são pronunciados como se as duas vogais fossem ditas rapidamente, ligadas. O "w" em "gwrtins" é uma semi-vogal, pronunciada de forma semelhante à versão curta do "u" em "put".

O "axis mundi" na cultura proto-indo-européia era variadamente representado como uma árvore, uma montanha ou uma árvore numa montanha. Ao invés da árvore, uma pedra vertical que seja notavelmente mais alta que a fonte pode ser usada. Nesse caso, substitua "Árvore" por "Montanha".
Akwam Nepot (o Padrinho, Guardião ou Tio das Águas), cognato com Nechtain, Netuno e Apam Napat, é o guardião da fonte das águas flamejantes, que dá poder, prosperidade e sabedoria (isto é, as bençãos trifuncionais) para aqueles que dela beberem. (Mas somente se estiverem qualificados.) Uso-o como o Guardião do Portal PIE.

Wesya ("A Chamejante") é o nome que construí para a deusa da lareira PIE. O nome original não pode ser reconstruído, mas muitas das formas descendentes são relacionadas a palavras como "queimar", "brilhar", etc.


Texto original em: http://www.adf.org/rituals/proto-indo-european/piesolrit.html

O Caminho do Bardo

(Jenny Dolfen art)

"Estou desejando, estou pensando
em levantar-me e sair cantando...
Cantar minhas canções e dizer minhas palavras
Tocar com harmonia os hinos ancestrais
Saber de cor poemas imortais.
Em meus lábios as palavras vão se derretendo,
E os dizeres transbordando
Apressados à minha boca eles chegam...
Para cantarmos belas canções,
Entoarmos nossas melhores lendas,
Para o ouvido de nossos amados
E todos aqueles que de nós desejam ouvir
Mágicos versos temos a reunir,
Iluminados pela inspiração...
Feitiçaria a Sampo nunca faltou
E a Loubi nunca faltaram encantamentos
Existem outras palavras mágicas,
Feitiços eu aprendi
pelos caminhos por onde passei...
Então, versos o gelo entoou,
E rimas a chuva recitou
O vento com outros nomes chegou
Canções nas ondas do mar flutuavam
Magia e feitiço os pássaros trouxeram
E encantamentos no cume das árvores puseram."
(Kalevala, poema finlandês escrito há aproximadamente 3000 anos).

Apesar do poema acima ser finlandês, e portanto da cultura nórdica, suas palavras e ideias contidas em muito se assemelham às ideias presentes na cultura celta e no caminho do bardo. Não me considero uma bardisa, acredito que estou engatinhando nesse caminho, mas gostaria de compartilhar alguns pensamentos, alguns lidos em livros e textos, outros intuídos em meus momentos de meditação ou nos minutos antes de adormecer (para mim, os mais inspiradores). Meu intuito é dar sequência a esse texto falando depois sobre os outros caminhos no Druidismo (vate, druida, guerreiro, artesão, devoto). Esse texto não é para ser um padrão ou modelo a ser seguido por pessoas que seguem o caminho do druidismo ou o caminho do bardo, é mais um conjunto de palavras e pensamentos que tenho sobre os bardos e bardisas e sua sabedoria. Por isso, o texto pode parecer meio “solto”, pois escrevi mais ou menos dessa forma. Deixando que meus pensamentos e inspiração fluíssem.

...



O Bardo. Um dos três caminhos do sacerdócio no Druidismo. Os bardos e bardisas devem conhecer profundamente a mitologia celta, e de forma geral, a mitologia. Além disso, precisam conhecer a história dos povos celtas.

O primeiro passo rumo a sabedoria de todo aquele que segue o Druidismo, seja ele um bardo, guerreiro ou devoto, é o silêncio. No silêncio encontram-se as respostas para muitas perguntas, pois é na voz do silêncio que se manifesta a voz dos Deuses. E o bardo ou bardisa deve aprender a ouvir o silêncio. O seu silêncio...

O bardo de grande sabedoria possui dois olhares, ao mesmo tempo. Um olhar voltado para o horizonte, e outro voltado para dentro de si. Ele(a) tem o dom de transformar em música e poesia o que sente, ouve, observa e aprende da Natureza. Dessa forma, a música e a arte em geral são sagradas, e sendo sagradas têm o poder de curar, abençoar e inspirar.

A harpa é o instrumento por excelência dos antigos bardos celtas, mas nada impede que hoje o instrumento musical do bardo ou bardisa seja uma flauta (como a irlandesa Tin Whistle), o bódhran, o violino ou outro que seja. O importante é aprender música e conhecer o poder que ela exerce na vida cotidiana e espiritual do ser humano, pois a música participa tanto da dimensão do sagrado quanto da dimensão profana.

Quatro são as coisas que o bardo deve conhecer e desenvolver: os mitos, a música, a poesia sagrada e a boa fala.

Os mitos porque nos contam sobre os Deuses, os ancestrais, a cultura e a vida dos celtas. Aquele que diz seguir o Druidismo sem conhecer os contos e mitos celtas, caminha por solo desconhecido e pode cair em armadilhas de sua própria ignorância. Os que conhecem os mitos e entendem seus mistérios tornam-se mais próximos dos Deuses e ancestrais.

A música porque é uma das melhores maneiras de nos comunicarmos com os Deuses, ancestrais e espíritos. Que celebração triste seria se não houvesse a melodia de uma harpa, flauta ou bódhran, e a cantiga proferida pelos lábios de um bardo ou bardisa. Quando faltar palavras para dizer uma oração, deixai que os Deuses sejam agraciados por uma bela canção. E isso será o bastante, acredite.

A poesia sagrada vai além de palavras rimadas ou combinadas. A poesia sagrada é um encantamento que, sendo inspirado pelos Deuses, emerge da alma do bardo. Quando palavras forem insuficientes para descreverem uma experiência mística ou conhecimento sagrado, deixe sua alma falar ou cantar, mesmo que as palavras pareçam sem sentido num momento, elas serão muito mais profundas e intensas do que você imagina.

A boa fala, de jeito gentil e sem palavras grosseiras, é uma característica do Sábio. É preferível ouvir uma voz gentil e clara, do que hostil e vulgar. Quando conversares com os Deuses e não-deuses falas dessa forma, com a boa falar, e sem dúvida serás ouvido e muito provavelmente, atendido.
Lembra-te da tríade irlandesa: “Quatro elementos da sabedoria: paciência, docilidade, sobriedade, polidez no falar, pois toda pessoa paciente é inteligente e toda pessoa dócil é sábia e toda pessoa sóbria é generosa e toda pessoa que fala com polidez é tratável”.

O bardo também é um contador de histórias. Ele transmite à tribo o conhecimento contido nos mitos e é ele quem mantém a memória da comunidade viva. Alguns bardos de hoje recorrem às técnicas de contação de histórias, e isso pode ser muito válido.
Mitos são para além de histórias sobre a origem das coisas. Os mitos sagrados nos contam sobre nossa história, são reflexos da alma humana, seus anseios, sonhos e medos. Contam sobre acontecimentos que ocorreram fora do tempo que conhecemos, em realidades no limiar do tempo-espaço, da matéria-espírito. Mitos não falam de uma verdade única e literal, pois os Deuses não são unilaterais. O mito é uma verdade que nunca foi, mas que sempre é.

Da mesma forma que o bardo pode encantar e abençoar com suas palavras, poesias e canções, ele também pode amaldiçoar. Pois as palavras possuem poder, carregam intenção e transformam a realidade a nossa volta. Esse tipo de arte poética é conhecida como sátira, e sabemos muito bem que os antigos bardos a realizavam contra os inimigos da tribo, seja esse inimigo um romano cruel ou um rei sem honra. Mas tenhas cuidado ao proferir palavras e intenções que não conheces o poder que elas podem alcançar. E não proclames sátiras aos quatro ventos e a qualquer criatura que te desagrada. Antes de qualquer coisa, pese as consequências de teus atos e reflete se é justo o que irás fazer. Palavras podem ser flores perfumadas, mas também podem ser facas afiadas, que se mal manuseadas ferem duramente aos outros e por vezes à ti mesmo.

Por fim, a música é o maior dom e a principal lição do bardo. Ele(a) se torna o verdadeiro bardo/bardisa quando ouve e compreende a Música da Natureza e aprende a caminhar nos passos que ela dita. O bardo quando alcança um grande conhecimento da música e poesia, ele(a) se torna a própria Música, e se harmoniza, enfim, com a Grande Canção.


Um exercício para o caminho do Bardo:

Feche os olhos, relaxe seu corpo e sua mente. Pronuncie uma palavra, pode ser “Awen” ou outra que desejar, lenta e claramente. Visualize, enquanto pronuncia a palavra, cada letra saindo de sua boca e se espalhando pelo ar. A cada vez que pronuncia essa palavra veja ela saindo de sua boca... As letras se transformam em coisas e cores, de letras elas tornam-se flores, animais, luz dourada, prateada, azul, esverdeada ou outra qualquer. Perceba como o ambiente fica diferente a medida que você pronuncia essa palavra. Como você fica diferente. Desenvolva essa meditação e deixe que a visualização siga seu próprio ritmo. Esse é um exercício que dará força às suas palavras, e uma palavra que carrega força mobiliza e transforma realidades.

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