5 de abril de 2014

Seja o Cisne


"Talvez o maior desafio da vida moderna seja sermos nós mesmos em um mundo que insiste em modelar nosso jeito de ser.

Querem que deixemos de ser como somos e passemos a ser o que os outros esperam que sejamos.

Aliás, a própria palavra “pessoa” já é um convite para que você deixe de ser você.

“Pessoa” vem de “Persona”, que significa “máscara”.

É isso mesmo: coloque a máscara e vá para o trabalho.

Ou vá para a vida com a sua máscara.

Talvez o sentido do elogio: “Fulano é uma boa pessoa”, signifique na verdade: “Ele sabe usar muito bem a sua máscara social”.

Mas qual o preço de ser bem adaptado?

O número de depressivos, alcoólatras e suicidas aumenta assustadoramente.

Doenças de fundo psicológico como síndrome do pânico e síndrome do lazer não param de surgir.

Dizer-se estressado virou lugar-comum nas conversas entre amigos e familiares.

Esse é o preço.

Mas pior que isso é a terrível sensação de inadequação que parece perseguir a maioria das pessoas.

Aquele sentimento cristalino de que não estamos vivendo de acordo com a nossa vocação.
E qual o grande modelo da sociedade moderna?

Querer ser o que a maioria finge que é.

Querer viver fazendo o que a maioria faz.

É essa a cruel angústia do nosso tempo: o medo de ser ultrapassado em uma corrida que define quem é melhor, baseada em parâmetros que, no final da pista, não levam as pessoas a serem felizes.

Quanta gente nós não conhecemos, que vive correndo atrás de metas sem conseguir olhar para dentro da sua alma e se perguntar onde exatamente deseja chegar ao final da corrida?

Basta voltar os olhos para o passado para ver as represálias sofridas por quem ousou sair dos trilhos, e, mais que isso, despertou nas pessoas o desejo de serem elas mesmas.

Veja o que aconteceu a John Lennon, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Isaac Rabin…

É muito perigoso não ser adaptado!

Essa mesma sociedade que nos engessa com suas regras de conduta, luta intensamente para fazer da educação um processo de produção em massa.

A maioria das nossas escolas trabalha para formar estudantes capazes de passar no vestibular.

São poucos os educadores que se perguntam se estão formando pessoas para assumirem a sua vocação e a sua forma de ser.

Quantos casos de genialidade que foram excluídos das escolas porque estavam além do que o sistema de educação poderia suportar.

Conta-se que um professor de Albert Einstein chamou seu pai para dizer que o filho nunca daria para nada, porque não conseguia se adaptar.

Os Beatles foram recusados pela gravadora Deca!

O livro “Fernão Capelo Gaivota” foi recusado por 13 editoras!

O projeto da Disney World foi recusado por 67 bancos!

Os gerentes diziam que a idéia de cobrar um único ingresso na entrada do parque não daria lucros.

A lista de pessoas que precisaram passar por cima da rejeição porque não se adaptavam ao esquema pré-existente é infinita.

A sociedade nos catequiza para que sejamos mais uma peça na engrenagem e quem não se moldar para ocupar o espaço que lhe cabe será impiedosamente criticado.

Os próprios departamentos de treinamento da maioria das empresas fazem isso.

Não percebem que treinamento é coisa para cachorros, macacos, elefantes.

Seres humanos não deveriam ser treinados, e sim estimulados a dar o melhor de si em tudo o que fazem.

Resultado: a maioria das pessoas se sente o patinho feio e imagina que todo o mundo se sente o cisne.

Triste ilusão: quase todo mundo se sente um patinho feio também.

Ainda há tempo!

Nunca é tarde para se descobrir único.

Nunca é tarde para descobrir que não existe nem nunca existirá ninguém igual a você.

E ao invés de se tornar mais um patinho, escolha assumir sua condição inalienável de cisne!"

(Roberto Shinyashiki)


("Swan", by Cilla Conway).

28 de março de 2014

...

"A terra é parte de meu corpo. Pertenço à terra de onde venho. A terra é minha mãe” (Tuhulkutsut).


Eu queria escrever algumas coisas sobre essa situação crítica que a Amazônia está vivendo, mas não sei se conseguirei traduzir meus pensamentos em palavras escritas.

O rio Madeira continua cheio, alagando a estrada e várias partes de Porto Velho e outros municípios. Acre e Rondônia enfrentam crises no abastecimento de alimento, combustível e produtos diversos. Hoje à tarde fui à padaria perto de casa e não tinha pão, pois acabou o trigo. Talvez chegue amanhã, talvez depois, talvez sei lá.
Mas isso é coisa leve perto do que Rondônia enfrenta... E ainda o interior do Acre, onde demora mais pra chegar os produtos.
O engraçado é que nos jornais quase não se fala ou não se fala nada sobre a responsabilidade que as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio têm sobre essa enchente do rio. Ou você acha mesmo que isso é SÓ um fenômeno da natureza?
Ah claro, a culpa não é só das hidrelétricas. É de todos nós. É dos desmatamentos absurdos, das queimadas, da poluição nos rios, do montante de lixo que produzimos todo santo dia nas cidades, enfim, do nosso total desrespeito para com a natureza. E não pense que a natureza é algo lá, longe de nós... A floresta lá e você aqui, na tua casa, no teu apto, no teu carro, no teu escritório. Não, meu irmão... A natureza É você. Você faz parte dela. Você que está no sul do país respira o mesmo ar de quem está no norte. Você aí que bebe a água limpa saída do filtro, bebe a água de um rio (supostamente tratada). Você aí que liga o computador para acessar o facebook todo dia, estás usando a força de um rio, que teve as águas represadas e o curso natural modificado numa hidrelétrica (que segundo o governo é energia limpa, mas sabemos muito bem que de limpa não tem nada).
O rio Madeira encheu e está trazendo à tona uma série de questões que não podem mais ser ignoradas. Precisamos repensar toda essa nossa forma de vida, todo esse sistema em que vivemos e precisamos, urgentemente, transforma-lo.
Chega de ganância e de um desenvolvimento que destrói a natureza, que destrói a nós mesmos. É hora de pensarmos em outras formas de geração de energia, cujos impactos ambientais sejam menores. É hora de olharmos a natureza como partes de nós mesmos, e entendermos que ao cuidarmos da Terra estaremos cuidando de nós e de nossas famílias. É hora de sermos mais solidários com os outros humanos e os outros seres desse mundo.
Estou vendo gente, que na ignorância ou no desespero, estoca quilos de alimentos e litros de combustível, sem necessidade. O que faz com que logo os produtos acabem e muitas pessoas fiquem sem. Até quando vamos só pensar no nosso umbigo?
E você já parou pra pensar o quão pequenos, e eu até diria, ridículos nós somos? Parece que para alguns sem gasolina a vida pára. Por acaso tu nascestes andando de carro? Não tens pernas? Se tem, ótimo, agradece por isso. Tem gente brigando em fila de posto de gasolina, indo aos tapas por uma chance de conseguir uns litros de combustível caro (diga-se de passagem muito caro, em Rio Branco está na faixa de R$ 3,30).
E tem tanta coisa nesse mundo que vale muito mais a pena a gente se preocupar, ou gastar nosso tempo e energia...
Se nesse exato momento, começasse um incêndio em tua casa. E você tivesse menos de 5 minutos para pegar alguma coisa e sair com vida. O que você pegaria?
Devemos parar de nos ver separados em nossos mundinhos. Não é “eu aqui no Acre e os outros lá em Rondônia”. Não é “tu aí em São Paulo, e o índio lá na aldeia no mato”. Somos NÓS vivendo em um mesmo planeta. O que acontece em Rondônia afeta o que acontece no Acre. O que acontece na Amazônia afeta o que acontece no sul do Brasil. O que acontece no sul, afeta o que acontece no nordeste. E o que acontece em qualquer lugar do mundo afeta o que acontece em todo o mundo!

Mais cedo ou mais tarde o Madeira vai baixar, e vai deixar um rastro de sujeira. Resta a nós, eu, você, representantes políticos, limparmos tudo e construir uma nova forma de viver nesse planeta. Antes que a próxima enchente do rio venha e nos leve a todos pra debaixo d’água.


5 de fevereiro de 2014

Na minha terra...

Na minha terra não tem Carvalho, mas tem Samaúma.
Na minha terra não tem Aveleira, mas tem Açaí.
Na minha terra não tem corvo, mas tem urubu e tem anu.
Na minha terra não tem cisne, mas tem garça.

Onde eu nasci não tem tinta azul.
Mas pra se pintar, usamos jenipapo e urucum.
Onde eu nasci não tem zimbro, mas tem breu e priprioca.
Onde eu nasci não faz frio,
Mas quando chove a gente deita na rede e se embala com a canção do vento e da chuva. E se der, ainda come uma tapioca.

Se isso me afasta do Druidismo ou dos Celtas antigos, eu vos digo: pelo contrário. Isso me aproxima deles e me religa ao que tem de mais sagrado: a Natureza.


Mayra (Darona) Ní Brighid.

(Raízes de uma samaúma, foto de Araquem Alcântara).