27 de maio de 2012

Uma Canção Feérica

"Diarmuid and Grainne's Bed" (foto de Cutan Burn, do Flickr)

(Cantado pelo povo das Fadas sobre Diarmuid e Grania, em seu sono nupcial embaixo de um Cromlech)

Nós que somos antigos, antigos e alegres
Oh tão antigos!
Milhares de anos, milhares de anos,
Se tudo foi dito:
Dê a essas crianças, novas do mundo,
Silêncio e amor;
E as longas horas de gotas de orvalho noturnas,
E as estrelas acima:
Dê a essas crianças, novas do mundo,
Descanso longe dos homens.
Há algo melhor, algo melhor?
Diga-nos então:
Nós que somos antigos, antigos e alegres,
Oh tão antigos!
Milhares de anos, milhares de anos,
Se tudo foi dito.

(William Butler Yeats)


***

A Faery Song

(Sung by the people of Faery over Diarmuid and Grania,in their bridal sleep under a Cromlech.)


We who are old, old and gay,
O so old!
Thousands of years, thousands of years,
If all were told:
Give to these children, new from the world,
Silence and love;
And the long dew-dropping hours of the night,
And the stars above:
Give to these children, new from the world,
Rest far from men.
Is anything better, anything better?
Tell us it then:
Us who are old, old and gay,
O so old!
Thousands of years, thousands of years,
If all were told.

(William Butler Yeats)

23 de maio de 2012

Cerimônia Druídica de Casamento

Elaborei esse rito de casamento para mim, e espero conseguir realiza-lo :) . É uma cerimônia breve, mas pode ser intensa e emocionante, se for bem conduzida. Compartilho com vocês aqui no EnCanto. Caso alguém for casar e pretenda realizar uma celebração neocelta de casamento, eis uma ideia... 



Todos ficam em círculo, no centro ficam o casal e a pessoa que fará a benção.

Deve haver uma mesa voltada para o leste, onde terá uma taça com água (no oeste), uma chama (no centro), e ramos ou folhas de uma árvore sagrada (no leste).

A mesa pode ser decorada com flores e frutos (que serão comidos por todos ao final). Deve ter também uma taça com vinho ou hidromel.

A pessoa que fará a benção se vira para o altar e o prepara. Ao acender a chama, diz:

“Chama nas mãos que cura e ensina, chama da forja que molda e tempera, chama da mente que incita e inspira!”.

Depois, posiciona as mãos sobre a taça com água e diz: “Água Sagrada, água divina, água das profundezas, que traz a cura e nos enche de Vida! Torna puro os nossos sentimentos, palavras e pensamentos”. Ao dizer essa última frase, molha os dedos indicador, médio e anular, na água e toca o coração, os lábios e a testa.

A pessoa pede que todos se concentrem por alguns instantes. Pode fazer uma oração, tocar um instrumento, como tambor ou sino, ou entoar a palavra “Awen”, como um mantra, conduzindo todos a fazerem o mesmo, enquanto mentalizam bênçãos para o casal, paz, amor, harmonia, inspiração.

A pessoa então diz:

“Quem está diante de nós?
Quem está atrás de nós?
Quem está abaixo de nós?
Os Ancestrais, os Deuses e a Tribo.
Quem nos sustenta?
Os Três do poder,
O Mar, Terra e Céu”.
(oração de Carmina Gadelica, modificada)

"Com a Terra sob nossos pés,
O Mar ao nosso redor,
E o Céu sobre nossas cabeças,
Nos reunimos nesse momento sagrado para pedir aos Deuses e não-deuses que guiem e protejam este casal abençoado.
"

A pessoa se posiciona de frente para o casal, que estão com as mãos unidas, e diz:

"Fulano, filho de (pai) e (mãe),
Fulana, filha de (mãe) e (pai),
Que seus laços nunca se quebrem, e seus caminhos nunca se separem.
Que Danu, a Mãe Ancestral, preencha suas vidas com fartura e prosperidade.
Que Dagda, o Bom Deus, lhe traga a paz e a felicidade.
Que Lugh, o das Muitas Artes, envolva-os com proteção e nobreza.
Que Morrighan, a Rainha das Batalhas, lhe traga sabedoria e beleza.
Que Bríde e Angus, do amor primaveril, os acompanhe em cada passo das vossas vidas e os abençoe com o amor nobre, respeitoso, de alma sempre alegre e juvenil."

A pessoa acende uma vela a partir da chama central, e diz as palavras seguintes segurando a vela em suas mãos.

“Ouçam-nos Deuses e Ancestrais, que nossos desejos se tornem dádivas e bênçãos a este amado casal”.

A pessoa, seguida pelo casal, entrega a vela a alguém que estiver no círculo, essa pessoa segurará a vela e dirá uma palavra que simbolize o seu desejo de benção ao casal (exemplo: lealdade, amor, amizade, paciência, companheirismo...). Ao proferir a palavra-benção, a pessoa entrega a vela para quem estiver do seu lado esquerdo, de forma que faça um percurso no sentido horário. E cada um repete esse ato até que todos tenham falado. O último entrega a vela para o casal, que seguram juntos a vela, e a recolocam no altar.

A pessoa diz:

"Aos Deuses da Terra, Céu e Mar, eu rogo para vós uma vida plena e feliz.
Honra, lealdade, amor e união,
Nenhum suspiro de dor em vossos peitos,
Nenhuma lágrima de tristeza em vossos olhos.
Nenhum impedimento em vossos caminhos,
Nenhuma sombra em vossos rostos,
Até que vos deites naquela mansão
Nos braços da terra benigna".
(baseada em uma prece de Carmina Gadelica)

Assim como o sol brilha de dia, e a lua de noite, que assim seja e assim se faça!

Oferecer a taça de vinho ou hidromel ao casal para beberem. Eles se beijam e todos batem palmas, sinalizando o encerramento da celebração.

Segue-se um pequeno banquete e depois danças, música e o que mais agradar. 


Benção do bebê

Tradução de Renata Gueiros.


Prece de Abertura


"Quem está diante de mim?
Quem está atrás de mim?
Quem está abaixo de mim?
Ancestrais, os Deuses e minha tribo.
Quem me sustenta?
Os Três do poder,
O Mar, Terra e Céu"
(Carmina Gadelica – modificado)

Oferendas e preces para os ancestrais

"Hoje, trazemos diante de vocês um de vós, povo de nosso passado,
um que continuará o que vocês iniciaram no tempo há muito passado.
Ela é uma de nós, uma da família que é tão antiga,
e precisaremos guiá-la até que esteja pronta para assumir todas as suas responsabilidades.
Estejam com ela e conosco enquanto o fazemos;
enquanto ela cresce, estejam a seu lado para ajudar.
Venham a nós hoje para saber quem ela é,
venham e celebrem conosco."

Oferendas e preces para os espíritos da terra (prece a ser determinada)

Oferendas e preces no altar da casa, chácara ou casa de campo
"Ó Deuses, abençoem minha chácara,
Abençoem todos que estão dentro dela.

Ó Deuses, abençoem meus parentes,
Abençoem minha substância.

Ó Deuses, abençoem minhas palavras,
Abençoem minha conversação.

Ó Deuses, abençoem minhas incumbências,
Abençoem minha jornada.

Ó Deuses, diminuam o meu mal,
Aumentem minha confiança.

Ó Deuses, me guardem da angústia,
Guardem-me do infortúnio.

Ó Deuses, me protejam da culpa,
Preencham-me com alegria.

E Deuses, deixem nada para meu corpo,
Que faça mal à minha alma
Quando eu entrar em companhia
Dos Deuses do meu Povo."

"Sagrados, vejam o que aconteceu aqui!
Tornei-me mãe / pai;
um grande mistério de fato.
Em minha cabeça não sei o que fazer,
Sei em meu coração o que é certo.
Que eu possa saber a coisa certa com tudo de mim
e que eu faça não importando o quanto doa.
Uma longa estrada jaz à frente, iluminados,
uma estrada cheia de grandes dificuldades,
uma estrada cheia de grandes alegrias.
Guiem-me ao longo dela.
Estejam a meu lado."
(Essas palavras são proferidas pelo pai e pela mãe, ou um dos dois)

Passe o bebê sobre o fogo / ou círculo três vezes. "Teu seja o poder do rio,
Teu seja o poder do oceano,
O poder da vitória em campo.

Teu seja o poder do fogo,
Teu seja o poder do raio,
O poder de uma forte rocha.

Teu seja o poder do elemento,
Teu seja o poder da tropa,
O poder do amor no alto."
(CG)

Enquanto ritualmente banhamos o bebê:

A prece do batismo
A pequena onda para tua forma,
A pequena onda para tua voz,
A pequena onda para tua doce fala.

A pequena onda para teu meio,
A pequena onda para tua generosidade,
A pequena onda para teu apetite.

A pequena onda para tua riqueza,
A pequena onda para tua vida,
A pequena onda para tua saúde.

Nove ondas de graças para ti,
As ondas do médico da tua salvação.

A pequena mão cheia para tua forma,
A pequena mão cheia para tua voz,
A pequena mão cheia para tua doce fala.

A pequena mão cheia para o teu comer,
A pequena mão cheia para o teu pegar,
A pequena mão cheia para o teu vigor.

A pequena mão cheia da Terra,
A pequena mão cheia do Mar,
A pequena mão cheia do espírito

Nove pequenas mãos cheias para tua graça
(Em nome de) dos Três em Um."
(CG)

Passe o bebê para que cada pessoa dê-lhes uma oportunidade para abençoarem.

Prece de fechamento. "Eu rogo para vós uma vida feliz
Honra, posição e boa reputação,
Nenhum suspiro de teu peito,
Nenhuma lágrima de teu olho.

Nenhum impedimento em teu caminho,
Nenhuma sombra em teu rosto,
Até que te deites naquela mansão
Nos braços da terra benigna.
(GC modificado)

Bênção da comida e então festejar.

Paganismo Reconstrucionista Celta



Texto escrito por: Erynn Rowan Laurie, Aedh Rua O'Morrighu, John Machate, Kathryn Price Theatana, Kym Lambert ní Dhoireann, ed. por Erynn Rowan Laurie. Tradução de Lornnah Carmel. 


História
A idéia das religiões reconstrucionistas pagãs surgiram pelo menos em meados dos anos 70 e foram discutidas na edição de 1979 do livro de Margot Adler Drawing Down the Moon. Algumas organizações, como a ADF tem realizado um trabalho reconstrucionista há alguns anos, mas seu foco nunca foi pura ou particularmente Celta.

Muitas pessoas tem debatido sobre o que constituiria uma espiritualidade e uma religião genuinamente Celta, e como educar as pessoas sobre a diferença entre Wicca e as diversas formas de paganismo Celta.Essas discussões inicialmente aconteciam em publicações pagãs e ao redor do fogo nos encontros pagãos iniciados no começo dos anos 80. Com o avanço da internet, os diálogos online, fóruns e listas de discussão tornaram-se fator critico que encabeçavam uma rápida distribuição de informação depois de 1989. A expressão RECONSTRUCIONISMO CELTA (RC) começou a ganhar uso comum durante o ano de 1992 -93 para descrever indivíduos que estavam tentando entender, pesquisar e recriar um caminho Celta autêntico para pagãos modernos. 

Com a fundação do Nemeton-L e-mail list para pagãos célticos e druidas em 1994, o movimento começou a crescer, unindo indivíduos de todas as partes do mundo. Cada pessoa trazia sua visão particular para esse e outros fóruns que subsequentemente se formaram. Grupos locais começaram a se formar e assim organizações nacionais começaram a ser fundadas sobre esses princípios.Artigos foram escritos e arquivados e informações foram livremente compartilhadas.

A maioria dos fundadores do CR vieram de uma bagagem Wicca, com influencia da ADF, do Keltria e de outros grupos similares.Juntos e separados, eles buscavam textos, estudos dos idiomas Celtas,faziam meditações e trabalhos de jornada espiritual, escreviam poesias e artigos e trabalhavam juntos para juntar material suficiente para criar uma base de sustentação para uma tradição Celta moderna que respeitasse as fontes ancestrais ao mesmo tempo que rejeitasse componentes das ancestrais religiões célticas que são inapropriadas aos praticantes modernos, tais como sacrifício humano e outros fortes elementos patriarcais dessas antigas sociedades.

Devido a natureza limitada das fontes materiais a respeito do paganismo tribal celta, essas pessoas também consideraram inspirações de outras culturas no intuito de preencher as lacunas para construir rituais e comunidades. Fontes nórdicas, hinduístas e praticas puja , tradições extáticas como Voudon e Umbanda e religiões tribais animistas foram examinadas na intenção de oferecerem semelhanças com o que encontramos nas fontes primarias e secundarias sobre a religião Celta.O trabalho de Sean Ó Tuathail foi fundamental para muitas pessoas nesse movimento construtor, na rejeição do modelo dos 4 elementos e propondo a cosmologia dos Três Reinos que consistem numa tríade de Terra, Mar e Céu.Sua frase, An Thríbhís Mhòr (o grande espiral triplo) tornou-se de uso comum para se referir aos três reinos.

Nesse artigo (Julho 2003) existem grupos ativos e indivíduos na net, e também um monte de fóruns de discussão ainda que alguns deles sejam bem pequenos. A Nemeton-L list continua sendo a maior fonte das comunidades Reconstrucionistas Celtas. O Imbas website tem um importante arquivo de informações sobre Reconstrucionismo Celta e outras tradições similares. 

O movimento Reconstrucionista Celta não pretende ou reivindica ser o Verdadeiro e Autentico Sobrevivente de nenhuma tradição céltica. Nós reconhecemos abertamente que o que nós praticamos são um punhado de criações modernas, baseadas e inspiradas nas crenças ancestrais célticas. Nós seguimos nossa inspiração enquanto permanecemos tão verdadeiros o quanto nos for possível as referencias que encontramos nos textos antigos, no trabalho dos estudiosos e arqueólogos, e os aspectos práticos do que funciona bem para nós. O Reconstrucionismo Celta é um caminho de constante crescimento e evolução, pesquisa e aprendizado, misticismo e experiência extática e intensa vida espiritual. 

Principais Crenças 
Nosso caminho é politeísta e animista. Nós acreditamos que existem vários deuses e que eles são entidades separadas e independentes merecedoras de culto. Nós acreditamos que os ancestrais e espíritos da terra/natureza também são entidades individuais merecedoras de reconhecimento e reverência. Essas entidades existem num grupo coeso e não isolado dividido por categorias. A maioria dos Reconstrucionistas Celtas acreditam que as deidades e espíritos agem nesse mundo e em suas vidas pessoais, influenciando-os e respondendo as preces, oferendas e sacrifícios. Nós acreditamos que o mundo é volvido de espíritos. Alguns acreditam que apenas os animais e árvores tem almas, mas também montanhas, rios, poços sagrados e outros fenômenos naturais também. Alguns acreditam que objetos criados podem ser imbuídos de espírito. Indivíduos e grupos freqüentemente seguem uma ou mais deidades que eles considerem especial ou tutelar, ou particularmente ligados a sua região ou foco de atividades. Muitos indivíduos se dedicam a uma ou mais deidades patrono/matrona.

As deidades celtas são o principal foco de nosso culto. Quando um reconstrucionista celta trabalha com deidades de outras culturas, ele o faz separadamente e de forma considerada culturalmente propicia aquelas deidades. Praticantes de reconstrucionismo celta raramente misturam ou escolhem espíritos ou divindades de diferentes culturas - até mesmo de diferentes culturas celtas - em um mesmo ritual. Se isso acontecer, será sempre com respeito a cada cultura e deidade envolvidas. Todas as deidades são respeitadas, mas nem todas são cultuadas. Certos na crença de que cada deidade tem desejos e personalidades individuais, Reconstrucionistas Celtas preocupam-se em invocar e trabalhar com deidades que tenham afinidade umas com as outras e ao mesmo tempo seguindo o conhecimento. Reconstrucionistas Celtas sentem se por um lado o culto é apropriado, humilhar-se perante a deidade não é. Nossas deidades exigem responsabilidade pessoal e que nós agimos com uma postura de força e respeito próprio.

Muitos Reconstrucionistas Celtas vêem o Cosmos da maneira dos Três Reinos, da Terra, do Mar e do Céu. Outros consideram um Submundo, um Meio-Mundo e um Mundo Superior em seu entendimento de cosmologia. Ainda há outros que considerem uma idéia de Outro Mundo ou Outros Mundos que coexistam com esse aqui. Todos esses Outros Mundos são considerados reais e acessíveis a aqueles com habilidades especiais. Em todas essas abordagens, o fogo exerce um diferente papel que nos principais neo-paganismos e Wicca. O fogo, particularmente o fogo que vem da água, pode ser visto como símbolo do Imbas ou Awen- a divina inspiração. Alguns vêem isso como o pivô central sobre o qual o Cosmos gira - um equivalente espiritual a árvore do mundo. 

A árvore da vida é entendida como o centro do Cosmos, sob a qual os vários mundos são suspensos ou da qual crescem. Essa árvore pode ser fisicamente representada tanto como uma arvore real quanto por um poste que pode ser o poste central ou pilar de sustentação de uma área ritual ou da casa de alguém. 

Deuses e espíritos são percebidos como semelhantes aos seres humanos e assim eles tem mal humor, desejos e vontades, e do ponto de vista de que eles não são necessariamente amorosos e bondosos o tempo inteiro. Que existem perigos nos espíritos do mundo é completamente reconhecido e aceitável. Oferendas são algumas vezes dadas como apaziguadoras assim como presentes para esses seres. 

Quando os elementos são discutidos ou usados em nossos rituais (e nem todos os Reconstrucionistas Celtas o fazem), o número varia de sete a onze, baseado no conceito de diferentes aspectos do mundo físico como “elementos”. Fenômenos físicos como chuva, sol, nuvens, plantas, pedras, solo, mar, vento e outros, são elementos e por vezes são equiparados com partes do corpo ou conceitos filosóficos importantes no conhecimento como consta em algumas fontes primárias de material. O sol por vezes, é igualado ao rosto, estrelas aos olhos, nuvens a mente ou pensamentos e plantas com os cabelos. É comum dizer que os reconstrucionistas não acham tabelas de correspondências algo que tenha muito utilidade, uma vez que o universo é um orgânico e não fica bem dentro de caixas e divisórias...

No ramo irlandês e no escocês de Reconstrucionismo Celta, o corpo é visto como contingente de uma estrutura energética interna em forma de três caldeirões que provêm e processam energia e inspiração vinda das deidades. O estado dos caldeirões em um corpo reflete em seu estado de saúde física e emocional. Trabalhos de cura e meditação são freqüentemente realizados com esses três caldeirões.

Homens e mulheres são iguais em poder e capacidade na liderança de grupos reconstrucionistas. Ambos ocuparão cargos de pesquisadores, estudiosos, clérigos, guerreiros, artesãos, lideres tribais entre outros. E dada igual reverência aos Deuses e Deusas. O reconstrucionismo celta esta repleto da participação de minorias sexuais, muitos de seus fundadores e pensadores são gays, lésbicas, bissexuais ou transformistas. O feminismo é visto por muitos como componente vital de suas filosofias, práticas e trabalho pessoal.

Ainda que muitas pessoas de ancestralidade celta sejam adeptas do movimento, ser descendente dos Celtas não é obrigatório. Nós respeitamos todos os nossos ancestrais e mestres, sendo eles Celtas ou não. Muitos de nós possuem pouca ou nenhuma ancestralidade Celta, mas todos nós aceitamos o ancestral povo Celta como ancestrais espirituais em nossa busca pessoal. Já que sabemos que toda a humanidade se originou na África, acreditamos que somos todos de uma grande família humana, com um só sangue. Celtas reconstrucionistas são todos fortemente contra o anti-racismo e abertos a pessoas de todas as cores, raças e etnias que desejem seguir as Divindades Celtas no estilo reconstrucionista. 

Nosso trabalho na reconstrução de uma religião céltica autêntica foi influenciado pelas práticas indígenas de outras culturas como Vudu, animismo tribal e Hinduísmo. Contudo, não incorporamos aleatoriamente partes dessas tradições, nem clamamos representá-las, elas tem suas próprias estruturas religiosas e comunidades. Nós fazemos o que podemos com o conhecimento Celta, onde existem lacunas vazias, e então nós buscamos as tradições sobreviventes com práticas similares para termos a melhor idéia de como preencher os espaços vazios mantendo o espírito celta. O conhecimento de outras culturas também serve como um maravilhoso feedback para examinarmos e validarmos o conhecimento que vem de nossa inspiração individual. 

Devido ao nosso elo com espíritos da natureza e ao fato de que a Terra onde vivemos é sagrada, muitos celtas reconstrucionistas consideram o envolvimento com o meio ambiente e o ativismo uma parte fundamental de suas práticas. Muitos se empenham em conhecer a ecologia local, considerando de vital importância conhecer plantas, pássaros e animais como uma maneira de se conectar com o território em que vivem e espíritos na natureza. Metáfora natural é uma coisa comum na linguagem dos filósofos, ritualistas e pensadores reconstrucionistas e nós absorvemos isso da longa tradição de poesia natural e misticismo das Terras Celtas. Ativismo ecológico e ecofeminismo também fazem parte das práticas individuais do movimento reconstrucionista. 

Pesquisa, misticismo e experiência extática e inspiração pessoal são todos valiosos no Reconstrucionismo Celta. Todos são necessários, ainda que alguns indivíduos e grupos definam um ao outro como prioridade. Habilidade pesquisadora e conhecimento teórico são profundamente respeitados no movimento. Entendimento e apreciação histórica também são importantes. Conhecimento das línguas celtas não é necessário, mas um vocabulário prático de termos técnicos é valorizado e respeitado no movimento. Alguns conduzem os rituais parciais ou inteiramente em língua celta quando possível. Inspiração individual e os frutos dessa meditação, êxtase e trabalhos misticamente orientados também são trabalhos altamente valorizados. Todos são debatidos, compartilhados e examinados para que sejam incluídos as praticas individuais ou grupais.

Estrutura clerical 
Onde existem cleros no Reconstrucionismo Celta - e em muitos ramos não existe nenhuma espécie de clero ou estrutura que o valha - ele é freqüentemente formado por professores ou compositores ou líderes de um grupo ritual. Os clérigos podem ser curandeiros ou árbitros em disputas, dependendo da comunidade que participam. Eles freqüentemente são adivinhos, filósofos e teólogos do movimento, ainda que nenhuma dessas atividades seja exclusiva aos membros do clero. Reconstrucionismo Celta descreve-os como Draoi ou Filidh, ou outros termos em idioma celta.

O Reconstrucionismo Celta não é uma religião clerical como a Wicca e como druidismo em geral, tende a ter Guerreiros, fazendeiros, escritores, artesãos e muitos outros podem seguir um caminho doméstico ou praticar com um grupo que possua clero. Artesãos, escritores e outros podem se identificar como Aes Dána ou "pessoa da arte". Indivíduos podem consultar alguém que considerem clérigos por conjectura pessoal ao invés de pertencer a um grupo. Todos são bem vindos tenham preferência por seguir um clero ou não.

Organização de grupos 
Cada grupo se organiza de maneira diferente um do outro. Não existe sequer uma estrutura universal seguida por todos, ou uma maioria de praticantes de Reconstrucionismo Celta. Alguns se identificam como Bosques outros como Tribo ou Tuatha outros preferem ser famílias enquanto outros preferem se organizar em colégios druídicos, hedge schools, ordens Bridianas etc. Não existem regras governando a criação ou a prática de grupos a não ser os princípios gerais e éticos da própria tradição em si. 
Princípios de conduta 

Os praticantes de reconstrucionismo celta acreditam que há limites para o que se pode e deve fazer num senso ético e social, baseado em conceitos tirados das Brehon Laws da Irlanda e outras fontes tradicionais, tais como as Instruções de Morann mac Main ou as Tríades Irlandesas e Galesas. Alguns reconstrucionistas celtas submetem-se a uma série de virtudes seguidas por muitos tais como Verdade, Honra, Justiça, Lealdade, Coragem, Comunidade, Hospitalidade, Força e Gentileza. 

Guerreiros são honrados, mas a violência não é a primeira nem a melhor solução para resolver nenhum problema. As pessoas dentro do movimento podem ser veteranos ou pacifistas, por vezes são ambos. O posto do guerreiro é visto como de legítimo protetor da tribo, não como alguém que acerta o primeiro que lhe der na telha...

Reconstrucionistas Celtas rejeitam veementemente racismo, sexismo, homofobia e qualquer outra forma de discriminação que divida as pessoas em grupos rivais.

Dias Sagrados 
Reconstrucionistas Celtas seguem os 4 festivais principais dos Antigos Povos Celtas, são eles: 

Oíche Shamhna/Samhain 
Lá Fhaile Bríde/Oímealg 
Lá Bealtaine/Bealtaine 
Lá Fhaile Lœnasa/Lughnasadh 

Grupos e praticantes isolados podem talvez pronunciar ou nomear esses festivais de diferentes maneiras, na linguagem da cultura que estejam almejando reconstruir. Os nomes podem ser em galês, córnico, gaulês ou outros idiomas. Reconstrucionistas gauleses geralmente celebram os festivais de acordo com o calendário de Coligny. De maneira geral, as estações são marcadas por mudanças do clima e da paisagem local e não da estrita observação de datas no calendário. Reconstrucionistas por todo globo consideram a observação dessas mudanças mais útil que qualquer vínculo ao calendário.

Somam-se a esses 4 festivais, grupos e indivíduos podem acrescentar festivais ou devoções a deidades individuais ou de acordo com o clima local, um fenômeno natural local que tenha significado para eles. No Pacifico noroeste, reconstrucionistas celtas celebram um festival anual na época dos salmões. Outros talvez celebrem um festival para Épona no começo de dezembro ou em Man eles paguem tributos a Manannan por volta do solstício de verão.

Modos de culto 
O culto varia enormemente no movimento reconstrucionista. As semelhanças se encontram mais na concordância filosófica que na consistência dos padrões rituais entre os grupos.

Reconstrucionistas Celtas não traçam círculos, ao contrário de muitas outras tradições neo-pagãs. Sentimos, no movimento, que o mundo inteiro é sagrado, e assim não temos que delinear o que é ou não sagrado (há controvérsias, existem grupos de RC que traçam círculos para demarcar a área ritual, mas ao invés de chamarem os 4 elementos como o fazem as vertentes neopagãs, é feito uma meditação com os Três Reinos, os 4 ventos ou as 4 cidades míticas irlandesas; na verdade, depende de que ramo ou região celta – Irlanda, Escócia, Bretanha etc – o grupo se afina). Alguns reconhecem 4 ou 12 ventos, marcando divisões no mundo em quadrantes ou províncias. A maioria dos reconstrucionistas montam altares, lareiras ou santuários em suas casas, alguns dedicados a deidades individuais, outros a espíritos ou ancestrais, alguns montam altares para propósitos mágicos específicos como cura ou inspiração. Muitos altares não tem a forma padrão neo-pagã (mesas) ou templo com objetos, mas sim podem ser a raiz de uma árvore, um monte de pedras, uma fonte... 

Divindades são chamadas para nosso culto como convidados e como foco de nossa devoção. Espíritos e ancestrais também são convidados. A maioria dos rituais envolvem oferendas de comida, bebida, incenso e outras coisas. As vezes são feitos pedidos as Deidades, espíritos ou ancestrais ainda que essa não seja a razão principal do ritual. Se pedidos são feitos, oferendas são sempre levadas. Divinação é freqüentemente feita após a entrega de uma oferenda para verificar se ela é aceitável.

Aqueles que cultuam Brid podem organizar células de 19 pessoas, alguns grupos só admitem mulheres, para manter a chama sagrada. Essas células normalmente consistem de 19 pessoas que por todo mundo mantém a chama por vinte dias, quando as 19 pessoas se revezam, e acredita-se que Brid em pessoa mantém a chama no vigésimo dia. A maioria dos grupos requer ritual específico, mas pedem que cada pessoa dedique seu trabalho nesse dia à Brid. Seguidores de outras deidades podem fazer meditações similares ou trabalhos de vigília, seja em grupo ou sozinho.

Alguns reconstrucionistas celtas estão trabalhando em formatos em prol de rituais domésticos (estilo sweat-house), como sabemos que foram parte da tradição celta insular de práticas de cura, e podem ter sido usadas como purificação e com propósitos divinatórios. Incubação de sonhos e prática para acessar inspiração, chamados de Imbas em irlandês ou Awen em galês também tem sido explorados. Meditações estilo Mala ou Rosário também tem tomado lugar no movimento, inspirados pelo livro "A Circle of Stones" de Erynn Rowan Laurie. Muitas pessoas tem tomado essa idéias base e criado suas próprias meditações. 

Muitos reconstrucionistas celtas consideram cada ação diária como uma forma de ritual. Alguns tiram inspiração do Carmina Gadelica e criam músicas e orações para cada etapa do dia. Outros fazem oferendas quando estão colhendo ou lidando com ervas. Alguns rituais são vistos com igual ou maior importância que os 4 festivais principais. Isso varia de dia para dia e de propósito para propósito. Normalmente reescrevemos nossas preces e feitiços de fontes medievais. Muitos trechos de manuscritos cristãos parecem ser de edições anteriores de forte espírito pagão e reeditá-los e dedicá-los a deidades pagãs parece correto e natural. Não acreditamos que um ritual deva ser formal para ter efeito ou ser útil, e tais ações diárias estão alinhadas com a cultura baseada num estilo de vida tribal.

Alguns reconstrucionistas rurais que criam animais para alimentação fazem oferenda aos animais e oferecem o espírito desses animais aos deuses num ritual de sacrifício. Sacrifícios dessa espécie são feitos apenas quando o animal seria de qualquer maneira morto para alimentação. Outros sacrifícios incluem quebrar objetos rituais e oferecê-los em fogueiras ou fontes de águas naturais como presente para as deidades ou espíritos, ou fazer figuras de ervas sagradas para sacrifícios de outros tipos.

A magia é parte da prática reconstrucionista. Reconstrucionistas não trabalham nos formatos platônico, hermético ou de magia cerimonial, nem quando se trata do modo como eles entendem o Cosmos e os espíritos do mundo. Ogam é um veículo comum de adivinhação, como a análise de penas de um pássaro ou o observar das nuvens. O sonho e o estado de visões são uma importante fonte de inspiração e divinação. A poesia e a música são freqüentemente vistos como componentes fundamentais da magia reconstrucionista. Feitiços elaborados a partir dos feitiços encontrados no folclore celta tradicional são constantemente usados, com poemas cantados sobre eles para aumentar seu poder. Reverência aos Deuses e ajuda dos espíritos sempre fazem parte da magia reconstrucionista também. 

Um Conto de Criação


A Grande Divindade, aquela que reúne em si todas as formas e não-formas, no momento de criação do universo e de tudo o que existe, se iniciou a cantar. A primeira canção, a primordial canção assim nasceu. E nessa Grande Canção a Divindade falava sobre tudo o que desejava criar. Todos os seres, todas as coisas, tudo o que conhecemos e o que ainda vamos conhecer, eram proferidos dos lábios divinos, e no instante mesmo em que eram proferidos, as coisas e os seres todos iam surgindo. A criação florescia e se expandia por todo o universo, como inúmeras estrelas no céu escuro e como as minúsculas areias no mar infindo. Quando a Divindade se deu por satisfeita, olhou tudo o que sua canção havia criado e sentiu enorme êxtase, um prazer inexplicável, como o de uma mãe a receber pela primeira vez o filho em seus braços. De tanta alegria, de tanto prazer e enorme amor a Divindade simplesmente não aguentou, e num súbito grito se abriu inteira e numa explosão ela então se tornou. Se transformou em milhões de sementes de luz, pequenas na aparência mas grandiosas em sua essência. E cada semente de luz continha uma parte da Divindade, e cada semente de luz era a própria Divindade, que caia dos céus lenta e delicadamente, como penas ao vento, e se espalhavam por todo o canto, e se alojavam em cada coisa, animando a tudo e trazendo o divino alento. A Divindade então se fez em tudo, e tudo se fez na Divindade. E é por isso, que desde então, tudo é vivo. E é por isso que sendo vivo, tudo é sagrado. E é por isso que sendo sagrado, tudo é divino.
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