28 de dezembro de 2012

20. Oração

“Na profundidade do centro tranquilo do meu ser,
que eu possa encontrar a paz.
Silenciosamente dentro da quietude do Bosque,
que eu possa partilhar a paz.
Suavemente dentro do grande círculo da humanidade,
que eu possa irradiar a paz”.
(Prece Druídica da Paz, da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas, proferida nas luas cheias).

Há poucos minutos olhei pro céu e vi a lua, cheia, brilhante e perolada, já despontada no horizonte. As nuvens em volta banhadas pelo luar formando uma cena digna de um quadro... Fechei os olhos, busquei na memória as palavras certas e proferi a prece acima transcrita. Troquei uma ou outra palavra, culpa da memória falha. Pensei comigo, “ainda preciso decorar melhor a prece”. Mas o importante é que ela foi dita e a intenção de paz para mim e para o mundo foi lançada, juntando-se agora à corrente de intenção lançada por outros que disseram as mesmas (ou semelhantes) palavras. Mais tarde, ainda em tempo, realizarei uma singela celebração de solstício de inverno, sendo basicamente um emaranhado de orações e oferendas, para honrar o período do ano mais chuvoso nas terras amazônicas e agradecer pelo ciclo que finda.


Sabemos que a oração compunha grande parte da prática religiosa dos celtas (e de muitos outros povos antigos), e o Carmina Gadelica está aí para nos demonstrar isso, apesar de tratar-se de preces coletadas séculos depois do auge das culturas celtas, é notória a herança cultural desses povos nelas contidas. Oração para saudar e se despedir do sol, oração para iniciar o trabalho, para iniciar uma viagem, para pedir cura, para abençoar a casa, para acender a lareira, para abençoar a comida, e tantas outras orações com as mais diversas finalidades.

O Carmina Gadelica é uma boa fonte de inspiração para compormos preces para nossa prática religiosa, filtrando, claro, as influências cristãs ali presentes. Mas a melhor fonte de inspiração para as orações não pode ser outra se não a própria inspiração, a espontaneidade e criatividade surgidas em momentos de meditação e introspecção.

Alguns gostam de proferir orações em línguas célticas, e outros em português mesmo. Alguns gostam de usar palavras rebuscadas, e outros preferem a simplicidade. Alguns gostam de recitar ou declamar as orações, outros preferem falar baixinho, apenas ao vento, ou ainda entoá-las como canções. A preferência aqui vai de cada um e garanto que todas são válidas. O importante mesmo é sentir-se a vontade no momento e carregar de emoção as orações. Não adianta nada recitar aos quatro ventos uma oração linda, rimada e extensa, se não houver sentimento e forte intenção no seu peito. Os Deuses e espíritos compreendem muito mais nossa mensagem por meio de nossas emoções e pensamentos do que por palavras secas e decoradas. Também não há a necessidade de gestos e “performance” ritualística se isso te faz ficar mais preocupado com a posição certa das mãos do que com as palavras que brotam no seu coração. Obviamente que uma coluna reta e uma posição confortável ajudam na concentração.

O que quero dizer é que você não precisa dizer uma oração, inclusive como a transcrita acima, só porque foi criada pelo druida tal ou encontrada em uma inscrição antiga na porta de um templo antigo da Gália no período galo-romano antigo (rs), se as palavras não te fazem sentido ou não te emocionam. Eu gosto dessa oração criada pela OBOD, sinto que a alma dessas palavras tem poder, mas pode ser que você ou alguém não sinta, e não há problema nisso, e caso também queira participar dessa “corrente” de paz você pode perfeitamente proferir uma oração criada por você mesmo, ali no momento de espontânea inspiração ou escrever previamente a prece. O que importa é a intenção/emoção que você imprime nas palavras e os pensamentos que mantêm durante aquela hora sagrada. É o que quer dizer a druidesa Emma Restall Orr ao afirmar que no Druidismo a comunicação se dá de “espírito para espírito”. Comunicamo-nos com os Deuses e seres sagrados por meio da oração, canção e oferendas, e eles se comunicam conosco por meio da Inspiração (a Awen ou Imbas), dos oráculos, “sinais” e presságios na natureza.

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