5 de janeiro de 2013

23. Comunidade


("Celtoi Volveci", um evento moderno cultural céltico na Europa)

O Druidismo é uma das religiões no mundo mais focadas na vida comunitária, no sentido de Clã, e Clã quer dizer família, e família, como escrevi no dia 22, existe a de sangue e a de alma.
Mesmo que uma pessoa afirme praticar “solitariamente” o Druidismo, vai chegar um momento na vida dela em que sentirá uma necessidade de compartilhar conhecimentos e celebrar em conjunto os festivais. Faz parte do caminho druídico e reconstrucionista celta o sentir-se parte de uma família, um clã, um grupo ou “bosque”. É um sentimento quase que intrínseco em nós.

A imagem de um grupo de pessoas que se querem bem sentadas ao redor de uma fogueira ou lareira, cantando músicas antigas e novas, contando histórias dos antepassados, do dia-a-dia ou mesmo histórias engraçadas, partilhando de boa bebida, boa comida e claro, boa conversa, é algo que muito, mas muito mesmo nos agrada e conforta a alma. Pois é exatamente aí que podemos perceber a essência, a alma da(s) cultura(s) celta(s)... Mesmo que os antigos celtas estivessem divididos em várias tribos, umas aliadas outras inimigas, o sentimento de lealdade, amizade e alegria é que buscamos ressaltar.

(Foto durante o III EBDRC, em novembro de 2012)

Muitas pessoas no Brasil seguem o caminho druídico individualmente simplesmente porque não encontraram ainda outras pessoas interessadas para formar um grupo. A maioria dos grupos druídicos se concentra no sudeste brasileiro (principalmente no estado de São Paulo), mas aos poucos novos grupos ou bosques vão surgindo em outras cidades e regiões do Brasil. Hoje podemos encontrar grupos, além de São Paulo, em Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Rio de Janeiro, João Pessoa, Recife, Salvador, Brasília, Belém... Alguns já existem há certo tempo e possuem as raízes fortes, outros ainda estão se construindo e aos poucos se fortalecendo.

Provavelmente também existem diversas pessoas espalhadas pelo Brasil estudando e seguindo o Druidismo, ainda timidamente, mas que não tardará muito para entrarmos em contato com elas ou elas entrarem em contato conosco. Com “conosco” quero dizer a “Comunidade” ou “Família Druídica Brasileira”, pois hoje creio que podemos nos sentir e nos denominar dessa forma. Não sem exagero, pois recentemente, em 2012, nasceu o que há meses ou mesmo anos se sonhava e planejava: o Conselho Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta. O nome é grande, mas é porque a família também é grande, e isso implica em diversidade, mesmo na unidade, e também em respeito. Dentro do Conselho há representantes no momento de quase todos os grupos do Brasil e de diferentes ramos. E apesar das diferenças, pequenas na verdade, são as semelhanças e os sonhos em comum que nos unem nessa causa por reconhecimento e respeito no âmbito social e legal, além de outras coisas tão importantes quanto.

Se você ainda não encontrou um grupo em sua cidade, tenha paciência que um dia encontrará ou construirá. Enquanto isso, continue estudando e vivenciando sua espiritualidade. O Druidismo é como uma semente que se espalha no vento... Como a kapok, a linda semente da mãe Samaúma... Mas nosso intuito não é espalhar o Druidismo para agregar mais adeptos, num sentido proselitista. Pelo contrário, não apoiamos nenhuma forma de proselitismo ou fundamentalismo. Acredito que cada um tem o seu caminho... Aquele que toca a sua alma. O mundo é diverso, e é na diversidade do mundo, de seus povos, crenças e culturas que reside a sua beleza.

O Druidismo é como uma semente no sentido de que mesmo que uma pessoa decida não seguir esse caminho, se ela ao menos compreender uma pequena parte do que é Druidismo (e de modo geral o Paganismo ou Politeísmo) algo novo irá brotar dentro dela. Uma nova perspectiva de mundo, um novo olhar, uma nova forma de vida, uma semente... Mesmo que essa pessoa siga por outras sendas depois, ela nunca mais vai olhar o mundo e as pessoas com os olhos de antes. E o mundo para ela, e quem sabe para outras, será um outro mundo... Um mundo melhor (assim esperamos).


Pois uma das coisas fundamentais que se aprende no Druidismo é que vivemos em comunidade. Ou melhor, vivemos em Comunidades dentro de uma Grande Comunidade. E não podemos ignorar nem cortar os laços que nos ligam. Devemos respeitar esses laços e zelar para que a harmonia e a paz se façam não só em uma, mas em todas as comunidades do mundo. Utopia? Quem sabe. Mas como já disse William Shakespeare, não é de pó e matéria que somos feitos, mas sim de sonhos. “Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos”, ele escreveu.

(Dança Circular Sagrada, durante o III EBDRC)

E nas palavras de Eduardo Galeano, “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.
Mais do que qualquer outra coisa, o que motiva nossas vidas são os sonhos. Para uns, utopia. Para outros, metas. Para os druidas (e druidistas), é a inspiração em ação. 

(Fogueira sagrada no último dia do III EBDRC)

Nenhum comentário:

Postar um comentário