28 de março de 2014

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"A terra é parte de meu corpo. Pertenço à terra de onde venho. A terra é minha mãe” (Tuhulkutsut).


Eu queria escrever algumas coisas sobre essa situação crítica que a Amazônia está vivendo, mas não sei se conseguirei traduzir meus pensamentos em palavras escritas.

O rio Madeira continua cheio, alagando a estrada e várias partes de Porto Velho e outros municípios. Acre e Rondônia enfrentam crises no abastecimento de alimento, combustível e produtos diversos. Hoje à tarde fui à padaria perto de casa e não tinha pão, pois acabou o trigo. Talvez chegue amanhã, talvez depois, talvez sei lá.
Mas isso é coisa leve perto do que Rondônia enfrenta... E ainda o interior do Acre, onde demora mais pra chegar os produtos.
O engraçado é que nos jornais quase não se fala ou não se fala nada sobre a responsabilidade que as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio têm sobre essa enchente do rio. Ou você acha mesmo que isso é SÓ um fenômeno da natureza?
Ah claro, a culpa não é só das hidrelétricas. É de todos nós. É dos desmatamentos absurdos, das queimadas, da poluição nos rios, do montante de lixo que produzimos todo santo dia nas cidades, enfim, do nosso total desrespeito para com a natureza. E não pense que a natureza é algo lá, longe de nós... A floresta lá e você aqui, na tua casa, no teu apto, no teu carro, no teu escritório. Não, meu irmão... A natureza É você. Você faz parte dela. Você que está no sul do país respira o mesmo ar de quem está no norte. Você aí que bebe a água limpa saída do filtro, bebe a água de um rio (supostamente tratada). Você aí que liga o computador para acessar o facebook todo dia, estás usando a força de um rio, que teve as águas represadas e o curso natural modificado numa hidrelétrica (que segundo o governo é energia limpa, mas sabemos muito bem que de limpa não tem nada).
O rio Madeira encheu e está trazendo à tona uma série de questões que não podem mais ser ignoradas. Precisamos repensar toda essa nossa forma de vida, todo esse sistema em que vivemos e precisamos, urgentemente, transforma-lo.
Chega de ganância e de um desenvolvimento que destrói a natureza, que destrói a nós mesmos. É hora de pensarmos em outras formas de geração de energia, cujos impactos ambientais sejam menores. É hora de olharmos a natureza como partes de nós mesmos, e entendermos que ao cuidarmos da Terra estaremos cuidando de nós e de nossas famílias. É hora de sermos mais solidários com os outros humanos e os outros seres desse mundo.
Estou vendo gente, que na ignorância ou no desespero, estoca quilos de alimentos e litros de combustível, sem necessidade. O que faz com que logo os produtos acabem e muitas pessoas fiquem sem. Até quando vamos só pensar no nosso umbigo?
E você já parou pra pensar o quão pequenos, e eu até diria, ridículos nós somos? Parece que para alguns sem gasolina a vida pára. Por acaso tu nascestes andando de carro? Não tens pernas? Se tem, ótimo, agradece por isso. Tem gente brigando em fila de posto de gasolina, indo aos tapas por uma chance de conseguir uns litros de combustível caro (diga-se de passagem muito caro, em Rio Branco está na faixa de R$ 3,30).
E tem tanta coisa nesse mundo que vale muito mais a pena a gente se preocupar, ou gastar nosso tempo e energia...
Se nesse exato momento, começasse um incêndio em tua casa. E você tivesse menos de 5 minutos para pegar alguma coisa e sair com vida. O que você pegaria?
Devemos parar de nos ver separados em nossos mundinhos. Não é “eu aqui no Acre e os outros lá em Rondônia”. Não é “tu aí em São Paulo, e o índio lá na aldeia no mato”. Somos NÓS vivendo em um mesmo planeta. O que acontece em Rondônia afeta o que acontece no Acre. O que acontece na Amazônia afeta o que acontece no sul do Brasil. O que acontece no sul, afeta o que acontece no nordeste. E o que acontece em qualquer lugar do mundo afeta o que acontece em todo o mundo!

Mais cedo ou mais tarde o Madeira vai baixar, e vai deixar um rastro de sujeira. Resta a nós, eu, você, representantes políticos, limparmos tudo e construir uma nova forma de viver nesse planeta. Antes que a próxima enchente do rio venha e nos leve a todos pra debaixo d’água.


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