29 de dezembro de 2013

Conhecendo e honrando os Ancestrais da terra.


“Esta Terra que pisamos, é gente como nós, é nosso irmão. É por isso que o guarani respeita a Terra, que é também um guarani. O guarani não polui a água, pois é o sangue de um karai. Esta Terra tem vida, só que muita gente não sabe. É uma pessoa, tem alma. A mata, por exemplo, quando um guarani precisa cortar uma árvore pede licença, porque sabe que ela é uma pessoa. A Terra é nosso parente, mas está acima de nós. Por isso ensinamos as crianças a respeitarem a Terra, que até hoje se movimenta, só que não percebemos. Quando os parentes morrem, carne e corpo se misturam com a terra. Por isso, temos que respeitar esta terra e este mundo em que a gente vive” (palavras do velho karai, Alexandre Acosta, da Aldeia de Jataity/RS).


''Somos filhos da terra cor de urucum. Dos sons do igarapé e da força do jatobá. Das águas do Araguaia, do Tapajós, do Iguaçu. Somos filhos do sol de Kuaray, da lua de Jaci. E da chuva que semeia o guaraná, a pitanga e a macaxeira. Somos filhos dos mitos. Do uirapuru e seu canto, do vento e do pranto. Guerreiros, fortes, sábios. Somos Ianomâmis, Guaranis, 
Xavantes, Caiabis. E o que somos nunca deixaremos de ser” (Zeli Poa).


Nasci no meio da Amazônia, em Belém-PA, e hoje moro no extremo oeste da região, em Rio Branco-AC. Nunca foi difícil me sentir conectada com essa terra tão sagrada em que caminho... Ouvia desde pequena histórias de visagens, encantados e bichos do fundo. Fascinava-me com esses seres...

Na cidade grande ou no interior (hoje em dia, mais no interior) era comum depois da janta as pessoas se reunirem na frente de suas casas e ficarem conversando até de madrugada sobre assuntos diversos, e claro, não podia faltar as visagens. Histórias de fantasmas de casas antigas, Matintas, Botos, Iaras, Mãe da mata, Mapinguari, Pretinho da bacabeira, Cobra Grande e tantos outros seres que surgiam nessas conversas depois da meia-noite. Histórias de gente que sumia na mata e depois aparecia sabendo um monte de coisas; gente que via mãe d’água sobre os igarapés; gente que era levada por Iara e nunca mais voltava; moça que era encantada pelo boto e até engravidava. Histórias e mais histórias dessa minha terra, da nossa terra, tão sagrada...

Os ancestrais da terra no druidismo são todos aqueles povos que viveram ou ainda vivem na terra em que nascemos e caminhamos, ou seja, são os povos nativos ou indígenas que conhecem as plantas da região e sabem seus poderes, que têm uma larga história de existência e resistência nessa terra. Eles estão aqui há muito mais tempo do que nós e só por isso já merecem nosso respeito e reverência. Os ancestrais da terra também são os seres e espíritos que dão vida à natureza que nos rodeia, os seres e animais das matas, das águas e dos ares. Irmãos de penas, escamas e patas.

Muitas pessoas estão desconectadas com essa terra, não conhecem sua história, sua vegetação, suas águas... Muitas pessoas ainda pensam que os “índios” não existem ou que eles são uns “mortos de fome” brigando por um pedaço de terra. Quanta ignorância, quanta arrogância...

“Quando os povos indígenas reclamam o direito às suas terras imemoriais – e eles reclamam basicamente sempre isto – não é porque tenham sido ou sejam os donos delas. É porque foram, através dos tempos, os seus habitantes imemoriais. Os seus antepassados tinham e eles seguem tendo para com ‘aquela terra’ um envolvimento afetivo e simbólico que escapa à compreensão ocidental de pensamento. No interior da lógica do seu imaginário, eles não querem de volta o que possuíram. Querem resgatar o que são” (BRANDÃO, “Somos as águas puras”, p. 34, 1994).


É certo que muitos druidistas sentem profunda sintonia com as terras célticas, Irlanda, Inglaterra, Escócia, Gales, Galícia... Terras também sagradas, onde viveram nossos ancestrais de alma. Mas não podemos nos esquecer da terra em que nascemos hoje. Não podemos ignorar a força que vem desse solo em que caminhamos. Dos seres que vivem nessas árvores e nesses rios. Das histórias que são contadas pelos antigos...

Eu sinto minha ancestralidade de uma forma difícil de explicar em palavras. Algumas pessoas podem ficar confusas e pensarem que faço uma mistura, um sincretismo[1] em minha prática religiosa, mas não é isso...

Eu sinto que tenho uma ancestralidade profunda, interna, de alma, antiga com os celtas. E ao mesmo tempo tenho uma ancestralidade presente, de agora, de corpo, à flor da pele com os povos nativos amazônicos, e brasileiros em geral. E procuro equilibrar e celebrar essas ancestralidades em minha vivência espiritual. Acredito que nascemos aqui no Brasil por uma razão importante, estamos AQUI, que tal perceber a beleza que há nessa terra e nas culturas tradicionais e locais de sua região e cidade? Tenho plena certeza que há muito a aprender com elas e muito a compartilhar também.

Ao conhecermos e honrarmos essas culturas, esses saberes, além de aprendermos e crescermos espiritualmente, estaremos fortalecendo-os de alguma forma. Nossa mente, nossos pensamentos e energia dispensados de alguma maneira aos ancestrais da terra irão fortalecê-los, em um nível espiritual e consequentemente material. E eles estão precisando de nosso auxílio...


Acredito que uma prática druídica ou reconstrucionista celta seja incompleta sem o conhecimento e a honra à sabedoria e cultura locais, tradicionais. O Druidismo hoje nunca será um reflexo perfeito do passado. E nem deveria ser ou nem deveríamos nos preocupar DEMAIS em tentar torna-lo. Como uma religião baseada na natureza, sabemos que ela muda e se transforma com o passar dos tempos, e é dessa maneira que penso que o druidismo deve caminhar... Fluindo como as águas de um rio e dançando como as brisas do mar.
Eu não nasci nessa vida na Irlanda, terra que amo de paixão! Eu nasci no Brasil, na Amazônia, terra linda, que apesar de maltratada, merece meu respeito e amor. Uma terra mágica, com seus muiraquitãs, samaúmas, encantarias e os segredos das cerâmicas marajoaras. Acho que o problema do Brasil e da Amazônia reside exatamente nisso. Na falta de amor e de cuidado ao olharmos para essa terra. Se a amássemos não haveria tanta corrupção e descaso, pois esses são sinais de posse e egoísmo, o oposto do amor. Vejamos o hino do País de Gales:

“Tenho carinho pela antiga terra de meus pais,
Terra de poetas e cantores, homens famosos de renome;
Os seus bravos guerreiros, grandiosos patriotas,
Deram o seu sangue pela liberdade.

Nação, Nação, Defendo a minha nação.
Enquanto o mar guarda a pura e muito amada região,
Possa a antiga língua perdurar.
Antiga Gales montanhosa, paraíso do Bardo,
Cada vale, cada montanha é bela para mim.
Pelo sentimento patriótico, são delícias os murmúrios
Das suas torrentes e rios para mim.

Se o inimigo subjuga a minha terra sob os seus pés,
A antiga língua galesa está viva como nunca.
A musa não foi calada pela repugnante mão da traição,
Nem a melodiosa harpa do meu país”.[2]

Imagine se nós, brasileiros, tivéssemos todos, um sentimento como esse pela nossa terra? Eu tenho certeza que a realidade de nosso país seria outra...

Talvez tenha divagado um pouco... (rs)

Enfim, para honrar os ancestrais da terra comece conhecendo quais são os povos indígenas que habitaram e habitam sua região, procure informações sobre eles, sua cosmologia, mitologia etc. Descubra se de repente você não tem alguma ascendência indígena (o que não é difícil no Brasil), e aí haverá mais um motivo para você conhecer e honrar seus ancestrais.

(Arte de Alexandre Segrégio)

Ouça os antigos, os mais velhos. Escute as histórias que eles contam, sejam elas histórias de vida ou de seres encantados. Vá no interior de sua cidade (ou talvez nem precise) e conheça os curadores, benzedeiras, rezadeiras, parteiras. Abra sua mente e ouça-os sem preconceito. Veja quanta sabedoria tradicional eles têm, e o quanto você pode aprender com eles.
Valorize o artesanato local, a música local e tradicional, os mestres. Tenha em seu altar um objeto associado a algum povo nativo, ou que faça referência a um que você tenha afinidade. Ou tenha uma parte de sua casa, um canto, uma mesa, uma prateleira, dedicada aos ancestrais da terra. Aos poucos eles farão parte de sua vida e de sua espiritualidade. Com sua energia e dedicação oferecidas a eles, em troca eles lhe oferecerão a sabedoria e os dons que você precisa. E assim a reciprocidade é estabelecida, e a hospitalidade é respeitada.

(Arte de Alexandre Segrégio)






[1] Ora vamos lá?! Diga que cultura ou religião nesse mundo não é sincrética? Mas enfim, essa é uma questão para outro momento...
[2] Fonte: http://nemetonataecina.blogspot.com.br/2013/12/historia-da-lingua-galesa-e-links.html


Cantos do povo Yawanawá para nos inspirar...



28 de dezembro de 2013

O caminho do Vate (Fáith)



Algumas considerações:

Esse é um dos caminhos do sacerdócio no Druidismo, ao lado do Bardo (Fíli) e do Druida (Druí)[1]. Sabe-se que essas funções se subdividiam em outras nos antigos povos celtas[2], mas muito se perdeu e pouco se sabe sobre como eram essas funções e o treinamento delas. De todo modo, a grande maioria dos grupos druidistas ou druídicos trabalham basicamente com essas três funções sacerdotais, mais as funções não-sacerdotais (que veremos em textos futuros).
Todas as funções no Druidismo hoje podem ser seguidas tanto por homens quanto por mulheres, não importa se é o caminho do Bardo ou do Ferreiro. Tudo é uma questão de dom e vocação (dán).

Os caminhos do sacerdócio são distintos entre si, embora estejam profundamente entrelaçados. É inegável que no Druidismo hoje, o bardo também agregue conhecimentos do caminho do vate e do druida, assim como o vate também apresenta conhecimentos do druida e do bardo, e o druida, por sua vez, acumule o saber do bardo e do vate. Mas cada caminho tem suas particularidades e características importantes de serem lembradas. Pode ser comum encontrar pessoas que transitem por dois caminhos, ou melhor, que dois caminhos (exemplo: bardo e vate) se mesclem em sua vivência religiosa e se expressem harmoniosamente em sua prática. E não há problema algum nisso, pelo contrário, provavelmente essa pessoa é muito inspirada e apresenta muitos dons, que merecem ser aproveitados na comunidade druidista em que participa.

Vate: o caminhante entre os mundos.

O vate (para o foco gaulês) ou fáith (para o gaélico) é uma espécie de xamã. Conhece as plantas e seus poderes, viaja para outros mundos, outras realidades, em busca de conhecimento e respostas, e é comum ter experiências místicas com seres feéricos. É um caminho difícil e nem todos o escolhem, pois é preciso ter muita força espiritual e mental para lidar com as intensas energias dos diversos mundos espirituais e físicos que nos cercam.



Por mergulhar ou viajar constantemente aos outros mundos, o vate pode ser chamado de “habitante do mundo da lua” pelos leigos, devido ao fato dele estar mais presente no mundo de lá do que no de cá e também ser praticamente uma “antena” (frequentemente aberto às mensagens e insights do outro mundo). É por essa razão que se a pessoa não tiver força de espírito o suficiente e bem “ancorada” na Terra, a influência e a força dos outros mundos podem até mesmo fazê-la enlouquecer. O auxílio de um guia ou mestre (físico ou não) nesse caminho, portanto, é de muita importância.


O vate lida com a Cura no nível físico-espiritual-mental-emocional (pois não podemos tratar o físico e ignorar o emocional e o espiritual. Como diz o ditado, “mente sã, corpo são”). A tríade druídica moderna que diz “Curar a si mesmo, curar a comunidade e curar a Terra” cabe perfeitamente no caminho do vate. A busca pelo conhecimento das medicinas tradicionais e terapias “alternativas” faz parte desse caminho e ela nunca cessa de fato.

Em um ritual druídico geralmente é o vate quem consulta o oráculo após a oferenda ser feita para saber se os ancestrais a receberam e se atenderão aos pedidos. Obviamente que em um grupo com número pequeno de membros ou na carência de um vate, aquela pessoa que estiver seguindo o caminho do druida pode realizar a consulta ao oráculo. Mas o estudo de oráculos não é restrito apenas ao caminho do vate. Todos os outros caminhos (bardo, devoto, artesão, guerreiro...) podem estudar e se dedicar a um oráculo, basta ter disposição e vontade.

Consultar e interpretar oráculos são as habilidades do vate, juntamente com a realização de cura pelas plantas e pelas medicinas tradicionais (ou seja, ligadas às tradições da Terra). O vate aprende que o verdadeiro oráculo não está fora dele, mas está dentro. Com desenvolvimento e sabedoria ele se torna o oráculo. Tarot, Ogham, Runas, Scrying com o fogo, a água ou outros elementos, ou interpretações/visões por meio do voo dos pássaros, das nuvens ou do som do vento, são tipos de oráculos que ajudam o vate a desenvolver seus dons, embora este irá se especializar ou sentir afinidade com um ou dois tipos de oráculos.

Há mais ou menos um mês atrás conversei com dois amigos do “Vozes do Bosque Sagrado”, de Brasília, o bardo Malhado e a vate Cecília, que me disseram algo muito interessante sobre as cores-símbolos desses caminhos em sua Ordem, e que para mim fez muito sentido.
O bardo é representado pela cor vermelha, pois é a cor do sangue que flui em nossas veias e refere-se à ancestralidade, à história de nossa família (de sangue e espírito). Também é a cor do fogo da inspiração, que arde na mente e ilumina a tudo e a todos que ouvem o bardo, ou do fogo que queima e fere àqueles que são indignos e alvos de uma sátira. Curiosamente, antes de eu saber que a cor vermelha era associada ao bardo, segundo essa concepção, eu costumava guardar minha pequena harpa enrolada em um pano vermelho e dourado...

O vate é representado pela cor verde, referindo-se às plantas, às árvores, à cura e à natureza. Mas vejo também que a cor azul pode ser relacionada a esse caminho, pois o azul é a cor do mar e das águas, que limpam, curam, purificam e são portais para o Outro Mundo. Verde, azul ou então uma cor que seja um misto entre essas cores; um verde-azulado ou azul-esverdeado.


O druida é representado pela cor branca, que reúne em si todas as cores, pois o druida é o mais antigo na tradição ou no clã e acumulou grande conhecimento, e também porque ele apresenta várias funções em uma só, é “juiz”, teólogo, sábio, místico, profeta, poeta, mestre/professor.

Cada caminho tem uma ou mais divindades patronas[3]. No caminho do vate são Ogma, Dian Cecht, Airmid, Cerridwen. Há outras, provavelmente, que também podem ser consideradas patronas desse caminho e aí, além do que nos diz a mitologia, depende também da vivência e afinidade de cada pessoa com as divindades.

Abaixo segue um belo e inspirado texto, que apesar de não ter origem na cultura celta, para mim, fala muito sobre o caminho do vate.

“Caminho do Leste; avô, sol dourado
Na luz amarela que afasta meu medo
Me lança num voo que cura a ferida
Espírito livre, morada da águia

Me esqueço da dor no caminho do Sul
Espelho quebrado reflete a criança
De corpo tão leve, vestido em vermelho
Destrói essa máscara no olho do lobo

Caverna profunda, meu negro mergulho
Janela suspensa virada pro Oeste
Avó; densa água, clareia bem dentro
A ursa é que guia meu tempo amanhã

Silêncio do Norte, minha reza anciã
É a prata-azulada da chama do fogo
Derrama o saber nesse cântaro fundo
Que um búfalo guarda até eu partir...

São quatro caminhos, a roda não para
O fogo do canto, na terra o tambor
Madeiras de água, no ar um chocalho
Na música eu falo com meu Criador...”

(Quatro Cântaros, por Fernanda de Paula)







[1] Poeta inspirado e druida, respectivamente, no foco gaélico.
[2] Leia mais em: http://aballom.blogspot.com.br/2013/06/tabelas-druidas-vates-e-bardos.html .
[3] No caminho do bardo as divindades patronas ou ancestrais são Brigid, Lugh, Taliesin e Amergin.


23 de dezembro de 2013

Uma história de solstício de inverno...


2100 aC Brú na Boyne, Hibernia

"Ana saiu do abrigo comunal em silêncio, enrolada em camadas de pele de raposa, só com os olhos de fora -- e mesmo assim o frio lá fora quase a fez voltar correndo para sua cama perto da lareira central...mas ela se forçou a sair e fechar a porta, e andou no frio mortal do que restava da Noite Longa, sabendo que sua família e tribo dormiam acalentados pelo calor do abrigo, pela comida e bebida, pelas danças e cânticos, e que ninguém acordaria cedo naquele dia cuja manhã já dava sinais de chegar, ninguém daria por sua falta por muito tempo, talvez por tempo bastante para ela realizar o que se havia proposto.
E foi pensando nisso que ela viu que, distraída, havia chegado à pedra grande e gravada com espirais que marcava a entrada do Monte Velho -- o lugar que já estava lá quando sua gente chegou das terras do Sul, ela com quase dois anos olhando do colo da mãe -- o lugar que as crianças temiam e que os velhos chamaram de sagrado, mesmo que nunca chegassem nem perto de sua sombra.
Mas ela queria um lugar só para ela, longe do aglomerado de calor fedido que era a sua tribo no Tempo Frio, e quando a idéia lhe veio ela não pôde resistir: e foi assim que Ana se esgueirou pela janela de pedra sobre a porta do Monte, há muito selada, entrando na caverna escura.
À fraca luz do amanhecer, ela viu ossos de pássaros e lebres, rochas soltas, e um corredor que se embrenhava na escuridão do Monte, e seguiu por ele apalpando a parede para se orientar.
E foi lá que o raio do Sol nascente a encontrou de surpresa, enchendo de luz a caverna e tornando tudo dourado à sua volta -- ela ficou ali, paralisada pela beleza daquela luz que parecia viva, e a voz a sobressaltou quando a ouviu ressoar na caverna:
"O que você faz aqui, e quem é você?"
Ana viu um menino de pé no meio da luz, parecendo ser da sua idade, e mesmo sem ver seu rosto claramente soube que ele era bonito.
"Eu pergunto o mesmo para você!" respondeu ela, que não tinha medo de gente grande ou pequena.
Ele riu um riso de criança, "esta é a minha casa, era do meu pai, ele me deu, eu dei para a minha mãe, eu venho aqui todo ano visitar ela"
Ela respondeu, "este é o Monte Velho, meu pai e minha mãe vivem do lado oposto daqui, eu vim aqui para ficar sozinha e pensar, então me deixe em paz!"
O menino riu e perguntou, "diga, o que é pensar?"
Ela o olhou com desprezo: "tem um olho dentro da cabeça que vê coisas que foram, que são, que podem ser; seu burro, ninguém lhe ensinou isso?"
Ele respondeu muito sério, "Sim, eu aprendi isso, só perguntei para ver se você sabia"
"Eu sei", respondeu Ana, "os velhos da tribo dizem que eu penso bem e que vou pensar melhor quando for mais velha"
"Para ver melhor", disse ele, "o olho dentro da cabeça precisa de mais luz, ele fica fechado sozinho na escuridão --"
"Como esta caverna no Monte Velho!" interrompeu ela, "que fica fechada no escuro..."
"Até a luz entrar", completou ele com uma risada, olhando para ela intensamente.
Sem saber como, Ana ficou em frente dele, cara a cara (e mesmo assim o rosto dele era ofuscado pela luz), e sentiu o toque de um beijo na testa, quente como o Sol no Tempo Quente...
E foi lá que a tribo de Ana a encontrou três dias depois, guiada pelos cães de caça, deitada num sono de quase-morte, do qual acordou com os olhos cegos para o mundo, mas com tamanha clareza de mente que os velhos da tribo a acolheram entre eles como se fosse uma anciã idosa e não uma menina de nove anos -- mas nisso, como em tantas coisas, estavam certos, porque aquela escapada na Noite Longa foi a última travessura da infância de Ana, que até morrer, e ter as cinzas espalhadas no sopé do Monte Velho, às vezes parecia ouvir um riso de menino quando a luz do Sol batia em seu rosto".


(Escrito por Endovelicon, em 14/12/13, e publicado em sua página pessoal no facebook).

6 de dezembro de 2013

V EBDRC - 18 a 20/04/14 em Recife!

Programem-se para o V Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta. Será nos dias 18, 19 e 20 de abril de 2014, em Recife!

Informações: http://ebdrc.wordpress.com/v-encontro-brasileiro-de-druidismo-e-reconstrucionismo-celta/

O sábio...


O sábio não possui a sabedoria. A sabedoria é uma fonte, da qual o sábio bebe.
Ele é um recipiente da sabedoria, e ao mesmo tempo é pequena fonte, de onde derrama algumas gotas àqueles que o rodeiam.
Sábio é aquele que sabe e sente como o universo funciona e por isso caminha e vive de acordo com os ritmos sagrados.
Ele caminha em sincronia com a natureza, ele é a natureza.

24 de outubro de 2013

O druida e o payé


Um druida da antiga ilha verde encontrou certa vez um sábio ou um payé (como era conhecido em sua terra). Ambos se estranharam a princípio, se olharam com olhos curiosos e atentos a cada gesto, observando o andar, as vestes, os adereços, o cabelo e até as pinturas que cada um trazia no corpo... Depois de um certo tempo sentaram juntos e começaram a conversar. Conversa looonga... Falaram sobre o que faziam em suas tribos, sobre o que acreditavam, como se vestiam, como cantavam e guerreavam, o que comiam e como caçavam... Falaram sobre a terra de onde vinham, dos animais que conheciam, das árvores e plantas que lá havia. Falaram sobre muitas outras coisas que é até difícil de listar. Foram percebendo que tinham tanto em comum... Tinham suas diferenças também, claro, essas são óbvias. Mas tinham muitas semelhanças, sim, e essas são sutis... O modo como viam a terra e toda a natureza que os cercava, como se relacionavam com as almas daqueles que já se foram e como acreditavam que em tudo havia vida ou energia... Antes de findarem a conversa, o payé ofereceu de presente ao druida umas ervas que, segundo ele, curavam dores de todo o tipo, principalmente no peito, e também baixava a febre. Tirou de sua orelha um brinco com uma pena vermelha e também deu ao druida dizendo a ele que era de uma ave sagrada que dava poder e sabedoria à fala. O druida as recebeu com bom coração e ofereceu também umas ervas que trazia em sua pequena bolsa que, segundo ele, curavam qualquer veneno. Tirou da trança de seu cabelo uma pena preta e deu ao novo amigo explicando que também era de uma ave sagrada para seu povo e que ajudava a se comunicar com os antepassados e com quem estava distante. O payé sorriu agradecido. Os sábios se abraçaram, despediram-se e seguiram cada um o seu caminho. Cada qual com suas vestes, crenças, cantos e línguas. Cada qual do seu jeito, mas não mais os mesmos...


9 de agosto de 2013

Hino/oração à Lugh

(imagem de Llewellyn Tarot)


É ele que vem no Leste
Com sua lança e escudo
Sua harpa e enxada
Sua coroa e palavra sábia
É Lugh das muitas batalhas
Lugh do braço forte
Lugh do rosto formoso
Lugh de todos os dons
Lugh, nosso rei bondoso
Filho do mar
Rei dos deuses
Guerreiro divino
Amigo dos druidas
Conselheiro do chefe
Com tua lança, protege-nos
Com tua luz, abençoa-nos
Com teu amor, nos guia
Com teu conhecimento, nos ilumina
Tua paz em nossa casa
Tua força em nossa tribo
Tua benção em nossa vida
Tua luz em meu caminho


(Mayra Ní Brighid)

13 de julho de 2013

Ser Guardiã(o) da Chama

Existe um lugar, em outro mundo, que transcende e ao mesmo tempo está por dentro e por detrás deste mundo, onde uma chama sagrada é mantida eternamente acesa. No coração de uma floresta... Em uma clareira, no interior de uma caverna... Mulheres guardam, cuidam, oram, cantam, diante do sagrado fogo, dedicando seu tempo e cuidado para jamais deixar que se apague a luz... Embora elas saibam que aquela Luz seja sagrada, divina, e que não irá se apagar nunca. Ela é a fonte de toda a chama no mundo, a luz que brilha tanto de dia quanto de noite, que nos aquece nas noites frias e acalenta nas noites quentes.

Mesmo que a chama física se apague, a chama espiritual continua queimando e iluminando... 

Uma guardiã da chama traz a luz de Brighid em seu coração. Ela deve alimentar sempre essa luz, deve buscar sempre a força da chama eterna para que seu corpo e seu espírito mantenham a paz. Seu olhar é sereno e doce. Sua presença é forte e iluminada. Suas palavras são poucas e sábias. A guardiã da chama acende o fogo com o calor de suas palavras e a luz que traz no coração. Como o sol, a chama sagrada de Brighid ilumina, abençoa, cura, alimenta, protege, afasta toda a escuridão. 

Aquele que carrega a luz de Brighid, seja homem ou mulher, deve manter a chama sagrada em seu lar com frequência. Deve orar para o fogo sempre. Sua luz iluminará o mundo. Seus passos abrirão caminho. Sua paz harmonizará o povo. Suas mãos curarão as feridas.

A luz de Brighid me ilumina.
A luz de Brighid me fortalece.
A luz de Brighid me protege.
A luz de Brighid me cura.
Que eu veja com os olhos do fogo.
Que eu fale as palavras da lareira.
Que eu tenha a força do espírito do carvalho.
Que eu tenha a liberdade das águas.
Que eu tenha a paz das rochas.
Que Brighid caminhe comigo, que eu caminhe com Brighid.
De dia e de noite, no inverno e no verão.



(Mayra Ní Brighid)

6 de junho de 2013

Rio da vida...


"Lembre-se sempre do movimento chamado “rio da vida”: tudo vem e vai... Quando você contraria esse fluxo e segura algo, está fazendo um convite à tristeza, porque o Universo não poderá levar o que é preciso. Nesse momento, você também perde a sua liberdade e a energia deixa de circular. Portanto, não segure nada; o rio precisa fluir".

(Brahma Kumaris)

Creio que a imaginação...


"Creio que a imaginação pode mais que o conhecimento. Que o mito pode mais que a história. Que os sonhos podem mais que os fatos. Que a esperança sempre vence a experiência. Que só o riso cura a tristeza. E creio que o Amor pode mais que a morte."

(Robert Fulghum)

14 de março de 2013

Dia da Água e reflexões


(Docas, em Belém, foto de Mara Hermes, do Flickr)

Caminhando um pouco pela cidade de Belém é possível perceber o tratamento que estamos dando as nossas águas... Ou seja, nenhum. Estava eu andando ali nas Docas, um lugar movimentado da cidade, área nobre e turística, quando senti o cheiro pútrido da vala... Não era simplesmente o cheiro da fossa, era como se estivesse entrado num banheiro imundo e ainda com a descarga quebrada...! Não estou exagerando, minha irmã e cunhado que estavam comigo também sentiram esse cheiro. E olha que é ali, na área nobre de Belém... Imagine nos bairros periféricos da cidade...

Belém não possui saneamento básico decente, a prefeitura não trata o esgoto antes de ser lançado nos canais, pelo contrário, o que sai de nossas privadas e pias vai diretamente para os canais...! Isso é um absurdo!!! Canais que são originalmente rios, igarapés... Ou pelo menos eram... Se tivéssemos um adequado tratamento de esgoto, com certeza as águas desses canais não estariam tão poluídas como estão hoje. Poderíamos quem sabe nadar nessas águas? Ou ao menos desfrutar de fato de um lazer nesses locais, e não passar correndo por eles pra não sentir o cheiro podre de cocô. A vida nesses antigos rios e igarapés é prejudicada, as pessoas que moram no entorno deles são prejudicadas, a população inteira da cidade é prejudicada. E como ainda hoje nossos representantes políticos não tomam uma atitude para resolver essa situação? Como a população não se conscientiza de cobrar isso do poder público ou ao menos de protestar? Estamos mesmo muito acomodados... Belém então...?! A população só quer saber de “tremer” nas aparelhagens, passear no shopping, curtir um som na balada lá nas Docas... E se sentir cheiro de merda? “Fecha o vidro do carro, liga o ar e tapa o nariz, maninho!” E sobre a “onda” do “treme”, sem comentários... A mídia ainda dá a maior corda para essa “cultura” (oi?) que sinceramente não passa nada de bom para os jovens. Cadê o nosso carimbó? O siriá? E tantas outras manifestações tradicionais? Cadê a valorização aos mestres populares do Pará? Ficaram esquecidos? Eles com certeza não se esqueceram...

("Chuva abraçando Belém", foto de Fausto Nocetti, do Flickr)

Belém é a cidade das águas, incontestavelmente. Mais ainda do que cidade das mangueiras. A chuva é a grande rainha dessa terra. É ela que marca as nossas estações. A falta dela ou o seu excesso esvazia ou enche os rios. Estes, por sinal, espalhados em todos os lugares. Muitos, infelizmente, foram soterrados ou aterrados para a construção de casas, prédios e condomínios... Um crime ambiental. Belém é uma cidade alagada na verdade. Um grande igapó. Poucos locais são de terra firme. Mais ainda sim, somos insistentes e irresponsáveis. Destruímos áreas verdes e naturais para construir prédios sem fim. Na própria rua onde mora minha mãe, no bairro Batista Campos, tem um prédio altíssimo por sinal em construção. Já teve a licença ambiental não sei quantas vezes barrada, mas quase sempre conseguiam dar um “jeitinho”. Agora, parece que está parado de novo. Lembro que logo no começo da construção tubos e canos enormes ficaram dias e dias puxando água do fundo da terra e jogando sabe onde? Diretamente na vala. Tenho quase certeza que a água que estavam tirando era de um lençol freático... ou no mínimo ligada ao canal/igarapé aqui próximo. A água que escorria pelos canos era limpa, clara... e estava sendo ali jogada na vala... Senti como se estivessem secando uma veia. Uma veia da terra... Outro crime ambiental. Desses que a gente vê em cada esquina... infelizmente.
Um dos principais reservatórios de água de Belém, que abastecem a cidade, fica no Parque do Utinga, uma área (diz que) de proteção ambiental. No entorno é possível ver lixo, jogado quase sempre pela população mesmo, a cerca que o envolve encontra-se em muitas partes torcida ou quebrada... Enfim, um lugar que de longe a gente percebe que está mal cuidado, pela prefeitura e pela população, coisa que aliás não deve ser encarada separadamente. Se uma está com problemas, com certeza a outra também está.
A enorme tubulação de água que sai do Utinga e abastece a cidade fica ali, exposta na rua, bem na João Paulo II (antiga 1º de Dezembro), enferrujada, cheia de pichação, mato e lixo ao redor... E coladinha nela, uma invasão. Pense numa água “limpa” que chega em sua casa?! E mesmo não sendo aquela coisa, com a qualidade ideal que deveria ter, muitos bairros em Belém sofrem com a falta contínua de água. Alguns ficam dias, semanas sem água. Ô prefeito! Eles pagam impostos também e é um direito de todos terem água encanada e limpa em suas casas, sabia?
Para piorar, muitos dos que tem água em suas casas ainda a desperdiçam. É torneira com defeito pingando dia-e-noite, é chuveiro ligado por horas no banho, é gente lavando carro na mangueira (e enquanto ele ensaboa o carro, a água tá lá... escorrendo na vala)...
É um descaso total com a água. A cidade de Belém, o Pará e, infelizmente, o Brasil como um todo, não respeitam e não cuidam das águas que temos (se é que são “nossas”). Belém é uma terra que chove pra caramba, não é possível que não tenham pensado num projeto para captar e tratar a água da chuva como alternativa a água dos rios?! Se pensaram, então estão com preguiça ou má vontade de coloca-lo em prática, assim como tantos outros bons projetos engavetados.
Pensemos no nordeste que está sofrendo a pior seca das últimas décadas! E isso quase não se fala nos jornais... A moda agora é falar do Papa... Pessoas e animais estão sofrendo e morrendo por causa da seca no sertão. Cidades do nordeste têm que passar por um racionamento de água rigoroso, enquanto noutras cidades não só do Pará, mas do Brasil desperdiçam água a bangú e poluem monstruosamente os rios, igarapés e todas as águas da cidade e do interior... Não interessa que eles estejam “longe” de você e vivem noutra região. Eles são nossos parentes! Pisamos no mesmo solo, na mesma terra, país e planeta! Não podemos mais ser tão egocêntricos assim. Estamos acabando com a natureza e com nós mesmos, já que ela não está separada de nós, acredite você ou não nisso.

Nesse dia 23 de março é o Dia da Água no calendário civil, façamos essa reflexão... Se possível façamos manifestações e protestos em nossas cidades sobre essa questão. Como estamos tratando as águas dessa terra? Rios, igarapés...? Será que viraram todos canais? Esgotos a céu aberto? Ah Belém... Que vergonha... De mim, de ti, de todos nós que deixamos que isso acontecesse.
Faço um pedido, singelo, simples: cuidemos de nossas águas. Sem água não há vida.
E faço um convite, vamos fazer cada um em sua cidade, no dia e hora melhor para cada um de nós, um ato simbólico, sagrado para pedir desculpas e honrar as águas de nossa cidade. Ao passar por um canal, que antes era um rio ou igarapé, pare um pouco ali, olhe para ele, pense no que ele foi um dia e como poderia ser no futuro melhor... Deixa teus pensamentos voarem ali, deixa aquelas águas turvas, limpas ou seja lá como estiverem, falarem contigo... E como um pedido de desculpas e um ato de reconhecimento àquelas Águas jogue ali uma flor bem bonita e cheirosa. Com uma leve reverência se retire dali e volte a sua vida cotidiana... Depois me conte como foi, se quiser, eu gostaria muito de saber.

No mais, desejo um feliz Dia da Água para todos nós, e principalmente para elas, as Águas. E feliz Equinócio de Primavera, que aqui em terras belenenses já se manifesta com sua dança de chuva e calor intenso...

7 de março de 2013

Mulheres e Muiraquitã! (em homenagem ao 8 de março)



Mulheres (e homens também!) paraenses e das terras do Norte (região amazônica)!


Em reverência à Mulher, ao Feminino, à Amazônia e ao Planeta-Mãe-Terra, vamos fazer um ato coletivo simbólico? Vamos usar nesses próximos dias (ou sempre se quiserem rs) um Muiraquitã, amuleto indígena que se tornou símbolo do Pará, da Amazônia e do poder feminino! Um pingente num colar, uma camisa com o símbolo, uma tattoo, um brinco... Enfim, vamos fazer essa singela homenagem a nossa terra e às mulheres guerreiras, mães, curadoras e pajés da Amazônia e do Brasil =) .

"Muiraquitã é um amuleto indígena. Segundo a lenda era retirado sob a inspiração de Iaci (lua) do fundo de um lago denominado Espelho da Lua (Iaci-uaruá) e oferecido pelas guerreiras amazonas aos índios da aldeia vizinha, os guacaris, logo após acasalarem em noites de lua cheia. Uma versão da fábula diz que os rebentos do sexo masculino nascidos dessa união eram sacrificados. Outra, que eram entregues aos guacaris. As meninas permaneciam com a tribo feminina. O amuleto conferia status e poderes mágicos ao seu possuidor. Bem pequenos e, por isso mesmo, alvo fácil de roubos e contrabandos, os muiraquitãs, quase sempre confeccionados em rochas esverdeadas, tinham em geral forma de sapos. Mais raramente, podiam ser talhados também em rochas brancas, em formatos de morcegos, peixes e homens. Associados à cerâmica conduri, os muiraquitãs não são exclusivos da região do Baixo Amazonas. Há informações de sua ocorrência na ilha de Marajó, além de Santarém, Alto Tapajós, norte de Manaus e até nas Guianas e ilhas do Caribe, segundo o professor Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP."

31 de janeiro de 2013

Sugestões para celebrar o Imbolc


Não me deterei em explicar sobre a história e significado desse festival céltico, pois iria apenas repetir o que já está escrito em muitos bons artigos:

Então, nesse breve texto darei algumas sugestões (simples) para celebrar o Imbolc.
Como esse é um dos festivais celtas mais domésticos, por causa do extremo frio que faz essa época nas terras da Europa[1], as famílias se reuniam em suas casas, em especial diante da lareira para honrar a deusa Brighid que em breve traria o Sol e o calor. Preces, canções, atos mágico-religiosos e oferendas eram feitas para a proteção da casa, da família e dos animais.

No dia 1 de fevereiro (ou numa data próxima) comece suas práticas religiosas para honrar e saudar esse festival[2]. Limpe sua casa, seu quarto. Faça uma faxina. Livre-se de coisas velhas, que não usa mais ou que lhe lembram de coisas ruins que aconteceram. Mude, transforme hábitos, pensamentos e atitudes negativas e viciosas.
Enquanto que em Samhain e Solstício de inverno damos mais atenção aos anciãos e antepassados, no Imbolc e na Primavera focamos nas crianças e nos pequenos.

Acenda uma vela em honra a Brighid na cozinha e se for possível coloque-a sobre ou próximo ao fogão (a nossa “lareira” hoje). Enquanto a chama queima, ouça músicas que gosta (e que Brighid talvez possa gostar também), cante cantigas para Ela (de sua autoria ou não), entoe poemas, ore a Ela e aos ancestrais, pedindo por proteção, cura, prosperidade, alegria, amor ou o auxílio para um problema em questão. Cozinhe. Faça algo inusitado ou tradicional, de família ou seu em particular. Ao ficar pronto compartilhe do alimento com amigos e parentes queridos, e ofereça um pedaço a Brighid (enterre, queime, deite sobre um rio ou deixe no altar por um tempo). Você pode oferecer também leite, mel, água, um arranjo de flores ou uma arte feita por você.

Ao sol se pôr ou quando achar que é propício acenda uma chama (uma vela ou fogueira) e recite orações e/ou poemas para Ela. Podem ter sido criados por você ou por outra pessoa, não importa muito, contanto que sejam palavras verdadeiras, intensas e que lhe toquem a alma. Se quiser, dance para (e com) Ela. Coloque para tocar uma música animada que goste, dessas com violinos, flautas e tambores... Ou então toque você mesmo um!
Deixe sua inspiração fluir. Deixe que Brighid fale aos seus ouvidos e coração. Deixe ela entrar em sua casa e encher você e aos seus de bençãos![3]

Obs: Na região norte do Brasil não temos um inverno como na Europa ou sul e sudeste brasileiro. Nosso inverno é carregado de chuvas, e ainda assim o calor é presente. Mas a água é quem reina nessa época, e à ela devemos dedicar honra e respeito nos festivais dessa metade do ano. Brighid é também senhora que cura, deusa das águas sagradas, dos poços e fontes. Que as águas que caem dos céus e as águas que enchem os rios nos purifiquem e levem embora para o mar o que não nos serve. Que as águas de Brighid nos cure, purifique, proteja e nos encha de bençãos de fertilidade!

Poemas ou canções para Brighid

Quem é ela que tem os cabelos de fogo e olhos penetrantes?
Quem é ela da voz suave e doce canto?
Quem é ela da face mais bela e mãos que afastam o pranto?

Quem é essa que guarda os segredos da cura?
Quem é essa que doma o fogo e a água?
Quem é essa da aura pura e radiante como a lua?

É Brighid, dos cabelos de fogo!
É Brighid, da fala mais doce!
É Brighid, da alma serena!
É Brighid, dos raios de sol!

Mãe da canção,
Mãe dos poetas,
Mãe da purificação.

Luz que me guia,
Luz que me protege,
Luz que me inspira e me dá sabedoria.

Divina mulher, estejas em minha casa.
Sábia senhora, estejas em minha fala.
Grande curadora, esteja em minhas mãos.
E pelo poder dos Três,
Que eu esteja em ti
E Tu estejas em mim.

Em uma só Canção,
Dentro de um só Coração,
Em plena União.

(Darona ní Brighid, escrito em 04/01/2013)

***

Quem é ela que vem com o Sol?
Quem é?
Quem é ela que traz o calor e a alegria?
Que é ela que traz a cura e a sabedoria?
Quem é?
É Brighid!
Rainha do fogo.
Senhora do poço.
Mãe dos poetas.
Guardiã da lareira.
Matrona da família!

(Saudação a Brighid e ao Imbolc. Darona, em 29.01.13).

***

Gabhaim molta Bríde
Ionmhain í le hÉirinn
Ionmhain le gach tír í
Molaimis go léir í

Lóchrann geal na Laighneach
A’ soilsiú feadh na tíre
Cean ar óghaibh Éireann
Ceann na mban ar míne

Tig an geimhreadh dian dubh
A’ gearradh lena ghéire
Ach ar Lá ‘le Bríde
Gar dúinn earrach Éireann

Tradução:

Eu louvo Brighid
Amada da Irlanda
Amada de todas as terras
Deixe-nos todos louvá-la

A tocha brilhante de Leinster
Brilhando em todas as partes da terra
O orgulho de todas as mulheres irlandesas
O orgulho das mulheres de bondade

Vem o Inverno escuro e difícil
Cortante com a sua severidade
Mas no dia da Santa Brighid
A Primavera irlandesa está perto de nós

(Tradicional canção/oração a Brighid)


***

Brighid do manto, rodeai-nos
Senhora dos cordeiros, protegei-nos
Defensora da lareira, iluminai-nos
Sob o vosso manto reuni-nos e restitui-nos a memória
Mãe das nossas Mães, antepassadas corajosas
Guiai nossas mãos nas vossas
Para acender a lareira, mantê-la viva, preservar a chama
Vossas mãos sobre as nossas, nossas mãos nas vossas
Para acender a luz tanto de dia como de noite
O manto de Brighid em torno de nós
A lembrança de Brighid dentro de nós
A proteção de Brighid livrando a nós
do mal, da crueldade e da ignorância
Neste dia e noite, do amanhecer ao anoitecer, do anoitecer ao amanhecer.
Assim seja.

(Tradicional prece a Brighid).




[1] No inverno, os dias que precedem a primavera são justamente os mais frios. À noite, o momento que precede a aurora costuma ser o mais escuro.
[2] Antes disso (uns dias antes), sugiro que estude e pesquise sobre a história, costumes e significados desse festival.
[3] Você pode fazer tudo o que foi sugerido aqui ou mais, ou ainda apenas o que for possível. Mas faça, e com espontaneidade, alegria e verdade, e tenha certeza que Brighid lhe abençoará.