29 de dezembro de 2013

Conhecendo e honrando os Ancestrais da terra.


“Esta Terra que pisamos, é gente como nós, é nosso irmão. É por isso que o guarani respeita a Terra, que é também um guarani. O guarani não polui a água, pois é o sangue de um karai. Esta Terra tem vida, só que muita gente não sabe. É uma pessoa, tem alma. A mata, por exemplo, quando um guarani precisa cortar uma árvore pede licença, porque sabe que ela é uma pessoa. A Terra é nosso parente, mas está acima de nós. Por isso ensinamos as crianças a respeitarem a Terra, que até hoje se movimenta, só que não percebemos. Quando os parentes morrem, carne e corpo se misturam com a terra. Por isso, temos que respeitar esta terra e este mundo em que a gente vive” (palavras do velho karai, Alexandre Acosta, da Aldeia de Jataity/RS).


''Somos filhos da terra cor de urucum. Dos sons do igarapé e da força do jatobá. Das águas do Araguaia, do Tapajós, do Iguaçu. Somos filhos do sol de Kuaray, da lua de Jaci. E da chuva que semeia o guaraná, a pitanga e a macaxeira. Somos filhos dos mitos. Do uirapuru e seu canto, do vento e do pranto. Guerreiros, fortes, sábios. Somos Ianomâmis, Guaranis, 
Xavantes, Caiabis. E o que somos nunca deixaremos de ser” (Zeli Poa).


Nasci no meio da Amazônia, em Belém-PA, e hoje moro no extremo oeste da região, em Rio Branco-AC. Nunca foi difícil me sentir conectada com essa terra tão sagrada em que caminho... Ouvia desde pequena histórias de visagens, encantados e bichos do fundo. Fascinava-me com esses seres...

Na cidade grande ou no interior (hoje em dia, mais no interior) era comum depois da janta as pessoas se reunirem na frente de suas casas e ficarem conversando até de madrugada sobre assuntos diversos, e claro, não podia faltar as visagens. Histórias de fantasmas de casas antigas, Matintas, Botos, Iaras, Mãe da mata, Mapinguari, Pretinho da bacabeira, Cobra Grande e tantos outros seres que surgiam nessas conversas depois da meia-noite. Histórias de gente que sumia na mata e depois aparecia sabendo um monte de coisas; gente que via mãe d’água sobre os igarapés; gente que era levada por Iara e nunca mais voltava; moça que era encantada pelo boto e até engravidava. Histórias e mais histórias dessa minha terra, da nossa terra, tão sagrada...

Os ancestrais da terra no druidismo são todos aqueles povos que viveram ou ainda vivem na terra em que nascemos e caminhamos, ou seja, são os povos nativos ou indígenas que conhecem as plantas da região e sabem seus poderes, que têm uma larga história de existência e resistência nessa terra. Eles estão aqui há muito mais tempo do que nós e só por isso já merecem nosso respeito e reverência. Os ancestrais da terra também são os seres e espíritos que dão vida à natureza que nos rodeia, os seres e animais das matas, das águas e dos ares. Irmãos de penas, escamas e patas.

Muitas pessoas estão desconectadas com essa terra, não conhecem sua história, sua vegetação, suas águas... Muitas pessoas ainda pensam que os “índios” não existem ou que eles são uns “mortos de fome” brigando por um pedaço de terra. Quanta ignorância, quanta arrogância...

“Quando os povos indígenas reclamam o direito às suas terras imemoriais – e eles reclamam basicamente sempre isto – não é porque tenham sido ou sejam os donos delas. É porque foram, através dos tempos, os seus habitantes imemoriais. Os seus antepassados tinham e eles seguem tendo para com ‘aquela terra’ um envolvimento afetivo e simbólico que escapa à compreensão ocidental de pensamento. No interior da lógica do seu imaginário, eles não querem de volta o que possuíram. Querem resgatar o que são” (BRANDÃO, “Somos as águas puras”, p. 34, 1994).


É certo que muitos druidistas sentem profunda sintonia com as terras célticas, Irlanda, Inglaterra, Escócia, Gales, Galícia... Terras também sagradas, onde viveram nossos ancestrais de alma. Mas não podemos nos esquecer da terra em que nascemos hoje. Não podemos ignorar a força que vem desse solo em que caminhamos. Dos seres que vivem nessas árvores e nesses rios. Das histórias que são contadas pelos antigos...

Eu sinto minha ancestralidade de uma forma difícil de explicar em palavras. Algumas pessoas podem ficar confusas e pensarem que faço uma mistura, um sincretismo[1] em minha prática religiosa, mas não é isso...

Eu sinto que tenho uma ancestralidade profunda, interna, de alma, antiga com os celtas. E ao mesmo tempo tenho uma ancestralidade presente, de agora, de corpo, à flor da pele com os povos nativos amazônicos, e brasileiros em geral. E procuro equilibrar e celebrar essas ancestralidades em minha vivência espiritual. Acredito que nascemos aqui no Brasil por uma razão importante, estamos AQUI, que tal perceber a beleza que há nessa terra e nas culturas tradicionais e locais de sua região e cidade? Tenho plena certeza que há muito a aprender com elas e muito a compartilhar também.

Ao conhecermos e honrarmos essas culturas, esses saberes, além de aprendermos e crescermos espiritualmente, estaremos fortalecendo-os de alguma forma. Nossa mente, nossos pensamentos e energia dispensados de alguma maneira aos ancestrais da terra irão fortalecê-los, em um nível espiritual e consequentemente material. E eles estão precisando de nosso auxílio...


Acredito que uma prática druídica ou reconstrucionista celta seja incompleta sem o conhecimento e a honra à sabedoria e cultura locais, tradicionais. O Druidismo hoje nunca será um reflexo perfeito do passado. E nem deveria ser ou nem deveríamos nos preocupar DEMAIS em tentar torna-lo. Como uma religião baseada na natureza, sabemos que ela muda e se transforma com o passar dos tempos, e é dessa maneira que penso que o druidismo deve caminhar... Fluindo como as águas de um rio e dançando como as brisas do mar.
Eu não nasci nessa vida na Irlanda, terra que amo de paixão! Eu nasci no Brasil, na Amazônia, terra linda, que apesar de maltratada, merece meu respeito e amor. Uma terra mágica, com seus muiraquitãs, samaúmas, encantarias e os segredos das cerâmicas marajoaras. Acho que o problema do Brasil e da Amazônia reside exatamente nisso. Na falta de amor e de cuidado ao olharmos para essa terra. Se a amássemos não haveria tanta corrupção e descaso, pois esses são sinais de posse e egoísmo, o oposto do amor. Vejamos o hino do País de Gales:

“Tenho carinho pela antiga terra de meus pais,
Terra de poetas e cantores, homens famosos de renome;
Os seus bravos guerreiros, grandiosos patriotas,
Deram o seu sangue pela liberdade.

Nação, Nação, Defendo a minha nação.
Enquanto o mar guarda a pura e muito amada região,
Possa a antiga língua perdurar.
Antiga Gales montanhosa, paraíso do Bardo,
Cada vale, cada montanha é bela para mim.
Pelo sentimento patriótico, são delícias os murmúrios
Das suas torrentes e rios para mim.

Se o inimigo subjuga a minha terra sob os seus pés,
A antiga língua galesa está viva como nunca.
A musa não foi calada pela repugnante mão da traição,
Nem a melodiosa harpa do meu país”.[2]

Imagine se nós, brasileiros, tivéssemos todos, um sentimento como esse pela nossa terra? Eu tenho certeza que a realidade de nosso país seria outra...

Talvez tenha divagado um pouco... (rs)

Enfim, para honrar os ancestrais da terra comece conhecendo quais são os povos indígenas que habitaram e habitam sua região, procure informações sobre eles, sua cosmologia, mitologia etc. Descubra se de repente você não tem alguma ascendência indígena (o que não é difícil no Brasil), e aí haverá mais um motivo para você conhecer e honrar seus ancestrais.

(Arte de Alexandre Segrégio)

Ouça os antigos, os mais velhos. Escute as histórias que eles contam, sejam elas histórias de vida ou de seres encantados. Vá no interior de sua cidade (ou talvez nem precise) e conheça os curadores, benzedeiras, rezadeiras, parteiras. Abra sua mente e ouça-os sem preconceito. Veja quanta sabedoria tradicional eles têm, e o quanto você pode aprender com eles.
Valorize o artesanato local, a música local e tradicional, os mestres. Tenha em seu altar um objeto associado a algum povo nativo, ou que faça referência a um que você tenha afinidade. Ou tenha uma parte de sua casa, um canto, uma mesa, uma prateleira, dedicada aos ancestrais da terra. Aos poucos eles farão parte de sua vida e de sua espiritualidade. Com sua energia e dedicação oferecidas a eles, em troca eles lhe oferecerão a sabedoria e os dons que você precisa. E assim a reciprocidade é estabelecida, e a hospitalidade é respeitada.

(Arte de Alexandre Segrégio)






[1] Ora vamos lá?! Diga que cultura ou religião nesse mundo não é sincrética? Mas enfim, essa é uma questão para outro momento...
[2] Fonte: http://nemetonataecina.blogspot.com.br/2013/12/historia-da-lingua-galesa-e-links.html


Cantos do povo Yawanawá para nos inspirar...



28 de dezembro de 2013

O caminho do Vate (Fáith)



Algumas considerações:

Esse é um dos caminhos do sacerdócio no Druidismo, ao lado do Bardo (Fíli) e do Druida (Druí)[1]. Sabe-se que essas funções se subdividiam em outras nos antigos povos celtas[2], mas muito se perdeu e pouco se sabe sobre como eram essas funções e o treinamento delas. De todo modo, a grande maioria dos grupos druidistas ou druídicos trabalham basicamente com essas três funções sacerdotais, mais as funções não-sacerdotais (que veremos em textos futuros).
Todas as funções no Druidismo hoje podem ser seguidas tanto por homens quanto por mulheres, não importa se é o caminho do Bardo ou do Ferreiro. Tudo é uma questão de dom e vocação (dán).

Os caminhos do sacerdócio são distintos entre si, embora estejam profundamente entrelaçados. É inegável que no Druidismo hoje, o bardo também agregue conhecimentos do caminho do vate e do druida, assim como o vate também apresenta conhecimentos do druida e do bardo, e o druida, por sua vez, acumule o saber do bardo e do vate. Mas cada caminho tem suas particularidades e características importantes de serem lembradas. Pode ser comum encontrar pessoas que transitem por dois caminhos, ou melhor, que dois caminhos (exemplo: bardo e vate) se mesclem em sua vivência religiosa e se expressem harmoniosamente em sua prática. E não há problema algum nisso, pelo contrário, provavelmente essa pessoa é muito inspirada e apresenta muitos dons, que merecem ser aproveitados na comunidade druidista em que participa.

Vate: o caminhante entre os mundos.

O vate (para o foco gaulês) ou fáith (para o gaélico) é uma espécie de xamã. Conhece as plantas e seus poderes, viaja para outros mundos, outras realidades, em busca de conhecimento e respostas, e é comum ter experiências místicas com seres feéricos. É um caminho difícil e nem todos o escolhem, pois é preciso ter muita força espiritual e mental para lidar com as intensas energias dos diversos mundos espirituais e físicos que nos cercam.



Por mergulhar ou viajar constantemente aos outros mundos, o vate pode ser chamado de “habitante do mundo da lua” pelos leigos, devido ao fato dele estar mais presente no mundo de lá do que no de cá e também ser praticamente uma “antena” (frequentemente aberto às mensagens e insights do outro mundo). É por essa razão que se a pessoa não tiver força de espírito o suficiente e bem “ancorada” na Terra, a influência e a força dos outros mundos podem até mesmo fazê-la enlouquecer. O auxílio de um guia ou mestre (físico ou não) nesse caminho, portanto, é de muita importância.


O vate lida com a Cura no nível físico-espiritual-mental-emocional (pois não podemos tratar o físico e ignorar o emocional e o espiritual. Como diz o ditado, “mente sã, corpo são”). A tríade druídica moderna que diz “Curar a si mesmo, curar a comunidade e curar a Terra” cabe perfeitamente no caminho do vate. A busca pelo conhecimento das medicinas tradicionais e terapias “alternativas” faz parte desse caminho e ela nunca cessa de fato.

Em um ritual druídico geralmente é o vate quem consulta o oráculo após a oferenda ser feita para saber se os ancestrais a receberam e se atenderão aos pedidos. Obviamente que em um grupo com número pequeno de membros ou na carência de um vate, aquela pessoa que estiver seguindo o caminho do druida pode realizar a consulta ao oráculo. Mas o estudo de oráculos não é restrito apenas ao caminho do vate. Todos os outros caminhos (bardo, devoto, artesão, guerreiro...) podem estudar e se dedicar a um oráculo, basta ter disposição e vontade.

Consultar e interpretar oráculos são as habilidades do vate, juntamente com a realização de cura pelas plantas e pelas medicinas tradicionais (ou seja, ligadas às tradições da Terra). O vate aprende que o verdadeiro oráculo não está fora dele, mas está dentro. Com desenvolvimento e sabedoria ele se torna o oráculo. Tarot, Ogham, Runas, Scrying com o fogo, a água ou outros elementos, ou interpretações/visões por meio do voo dos pássaros, das nuvens ou do som do vento, são tipos de oráculos que ajudam o vate a desenvolver seus dons, embora este irá se especializar ou sentir afinidade com um ou dois tipos de oráculos.

Há mais ou menos um mês atrás conversei com dois amigos do “Vozes do Bosque Sagrado”, de Brasília, o bardo Malhado e a vate Cecília, que me disseram algo muito interessante sobre as cores-símbolos desses caminhos em sua Ordem, e que para mim fez muito sentido.
O bardo é representado pela cor vermelha, pois é a cor do sangue que flui em nossas veias e refere-se à ancestralidade, à história de nossa família (de sangue e espírito). Também é a cor do fogo da inspiração, que arde na mente e ilumina a tudo e a todos que ouvem o bardo, ou do fogo que queima e fere àqueles que são indignos e alvos de uma sátira. Curiosamente, antes de eu saber que a cor vermelha era associada ao bardo, segundo essa concepção, eu costumava guardar minha pequena harpa enrolada em um pano vermelho e dourado...

O vate é representado pela cor verde, referindo-se às plantas, às árvores, à cura e à natureza. Mas vejo também que a cor azul pode ser relacionada a esse caminho, pois o azul é a cor do mar e das águas, que limpam, curam, purificam e são portais para o Outro Mundo. Verde, azul ou então uma cor que seja um misto entre essas cores; um verde-azulado ou azul-esverdeado.


O druida é representado pela cor branca, que reúne em si todas as cores, pois o druida é o mais antigo na tradição ou no clã e acumulou grande conhecimento, e também porque ele apresenta várias funções em uma só, é “juiz”, teólogo, sábio, místico, profeta, poeta, mestre/professor.

Cada caminho tem uma ou mais divindades patronas[3]. No caminho do vate são Ogma, Dian Cecht, Airmid, Cerridwen. Há outras, provavelmente, que também podem ser consideradas patronas desse caminho e aí, além do que nos diz a mitologia, depende também da vivência e afinidade de cada pessoa com as divindades.

Abaixo segue um belo e inspirado texto, que apesar de não ter origem na cultura celta, para mim, fala muito sobre o caminho do vate.

“Caminho do Leste; avô, sol dourado
Na luz amarela que afasta meu medo
Me lança num voo que cura a ferida
Espírito livre, morada da águia

Me esqueço da dor no caminho do Sul
Espelho quebrado reflete a criança
De corpo tão leve, vestido em vermelho
Destrói essa máscara no olho do lobo

Caverna profunda, meu negro mergulho
Janela suspensa virada pro Oeste
Avó; densa água, clareia bem dentro
A ursa é que guia meu tempo amanhã

Silêncio do Norte, minha reza anciã
É a prata-azulada da chama do fogo
Derrama o saber nesse cântaro fundo
Que um búfalo guarda até eu partir...

São quatro caminhos, a roda não para
O fogo do canto, na terra o tambor
Madeiras de água, no ar um chocalho
Na música eu falo com meu Criador...”

(Quatro Cântaros, por Fernanda de Paula)







[1] Poeta inspirado e druida, respectivamente, no foco gaélico.
[2] Leia mais em: http://aballom.blogspot.com.br/2013/06/tabelas-druidas-vates-e-bardos.html .
[3] No caminho do bardo as divindades patronas ou ancestrais são Brigid, Lugh, Taliesin e Amergin.


23 de dezembro de 2013

Uma história de solstício de inverno...


2100 aC Brú na Boyne, Hibernia

"Ana saiu do abrigo comunal em silêncio, enrolada em camadas de pele de raposa, só com os olhos de fora -- e mesmo assim o frio lá fora quase a fez voltar correndo para sua cama perto da lareira central...mas ela se forçou a sair e fechar a porta, e andou no frio mortal do que restava da Noite Longa, sabendo que sua família e tribo dormiam acalentados pelo calor do abrigo, pela comida e bebida, pelas danças e cânticos, e que ninguém acordaria cedo naquele dia cuja manhã já dava sinais de chegar, ninguém daria por sua falta por muito tempo, talvez por tempo bastante para ela realizar o que se havia proposto.
E foi pensando nisso que ela viu que, distraída, havia chegado à pedra grande e gravada com espirais que marcava a entrada do Monte Velho -- o lugar que já estava lá quando sua gente chegou das terras do Sul, ela com quase dois anos olhando do colo da mãe -- o lugar que as crianças temiam e que os velhos chamaram de sagrado, mesmo que nunca chegassem nem perto de sua sombra.
Mas ela queria um lugar só para ela, longe do aglomerado de calor fedido que era a sua tribo no Tempo Frio, e quando a idéia lhe veio ela não pôde resistir: e foi assim que Ana se esgueirou pela janela de pedra sobre a porta do Monte, há muito selada, entrando na caverna escura.
À fraca luz do amanhecer, ela viu ossos de pássaros e lebres, rochas soltas, e um corredor que se embrenhava na escuridão do Monte, e seguiu por ele apalpando a parede para se orientar.
E foi lá que o raio do Sol nascente a encontrou de surpresa, enchendo de luz a caverna e tornando tudo dourado à sua volta -- ela ficou ali, paralisada pela beleza daquela luz que parecia viva, e a voz a sobressaltou quando a ouviu ressoar na caverna:
"O que você faz aqui, e quem é você?"
Ana viu um menino de pé no meio da luz, parecendo ser da sua idade, e mesmo sem ver seu rosto claramente soube que ele era bonito.
"Eu pergunto o mesmo para você!" respondeu ela, que não tinha medo de gente grande ou pequena.
Ele riu um riso de criança, "esta é a minha casa, era do meu pai, ele me deu, eu dei para a minha mãe, eu venho aqui todo ano visitar ela"
Ela respondeu, "este é o Monte Velho, meu pai e minha mãe vivem do lado oposto daqui, eu vim aqui para ficar sozinha e pensar, então me deixe em paz!"
O menino riu e perguntou, "diga, o que é pensar?"
Ela o olhou com desprezo: "tem um olho dentro da cabeça que vê coisas que foram, que são, que podem ser; seu burro, ninguém lhe ensinou isso?"
Ele respondeu muito sério, "Sim, eu aprendi isso, só perguntei para ver se você sabia"
"Eu sei", respondeu Ana, "os velhos da tribo dizem que eu penso bem e que vou pensar melhor quando for mais velha"
"Para ver melhor", disse ele, "o olho dentro da cabeça precisa de mais luz, ele fica fechado sozinho na escuridão --"
"Como esta caverna no Monte Velho!" interrompeu ela, "que fica fechada no escuro..."
"Até a luz entrar", completou ele com uma risada, olhando para ela intensamente.
Sem saber como, Ana ficou em frente dele, cara a cara (e mesmo assim o rosto dele era ofuscado pela luz), e sentiu o toque de um beijo na testa, quente como o Sol no Tempo Quente...
E foi lá que a tribo de Ana a encontrou três dias depois, guiada pelos cães de caça, deitada num sono de quase-morte, do qual acordou com os olhos cegos para o mundo, mas com tamanha clareza de mente que os velhos da tribo a acolheram entre eles como se fosse uma anciã idosa e não uma menina de nove anos -- mas nisso, como em tantas coisas, estavam certos, porque aquela escapada na Noite Longa foi a última travessura da infância de Ana, que até morrer, e ter as cinzas espalhadas no sopé do Monte Velho, às vezes parecia ouvir um riso de menino quando a luz do Sol batia em seu rosto".


(Escrito por Endovelicon, em 14/12/13, e publicado em sua página pessoal no facebook).

6 de dezembro de 2013

V EBDRC - 18 a 20/04/14 em Recife!

Programem-se para o V Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta. Será nos dias 18, 19 e 20 de abril de 2014, em Recife!

Informações: http://ebdrc.wordpress.com/v-encontro-brasileiro-de-druidismo-e-reconstrucionismo-celta/

O sábio...


O sábio não possui a sabedoria. A sabedoria é uma fonte, da qual o sábio bebe.
Ele é um recipiente da sabedoria, e ao mesmo tempo é pequena fonte, de onde derrama algumas gotas àqueles que o rodeiam.
Sábio é aquele que sabe e sente como o universo funciona e por isso caminha e vive de acordo com os ritmos sagrados.
Ele caminha em sincronia com a natureza, ele é a natureza.