(texto publicado primeiramente no site aterrasagrada.blogspot.com)
Tem quase um ano que comecei a usar o “Copo da Lua”, como gosto de chamar o meu coletor menstrual, e desde então só tenho tido experiências maravilhosas com ele! Resolvi escrever um texto falando um pouco sobre isso, ainda mais porque li recentemente algumas dúvidas de meninas no Facebook. Então bora lá...
Primeira coisa, ao ler esse texto desprenda-se de qualquer preconceito e abandone pensamentos como “ah que nojo...”, “ah credo...”, “ah isso”, “ah aquilo...”, ok? Estamos falando de nossos corpos e tudo o que ele abrange, e dentro da Espiritualidade Feminina o nosso corpo é sagrado! O corpo feminino, sobretudo, já passou tempo demais sendo objetificado e desvalorizado em todos os aspectos. Tá na hora de reconhecermos o poder que ele tem e a força de nossos ciclos sagrados, ok mulherada?! (e macharada também, bora mudar esse comportamento/paradigma aê!).
Bom, antes de eu começar a usar o Copo da Lua eu já o tinha em casa, quero dizer, já tinha comprado ele fazia uns anos, mas nunca tinha conseguido usar, então ficava lá, guardado na minha gaveta... mas nunca esquecido. Até que nos últimos anos, meus estudos sobre a Espiritualidade Feminina e o Ecofeminismo começaram a se intensificar. Aí pensei, “hum... acho que tá na hora d’eu tomar vergonha na cara e aprender a usar esse coletor”. Então, comecei a participar de grupos no Facebook que tratavam sobre o assunto (coletores menstruais) e a conversar com amigas minhas que já usavam. Foi quando pude esclarecer um monte de dúvidas que ainda tinha sobre como usar o Copo da Lua.
Que ele é muito mais ecológico que os absorventes descartáveis, eu já sabia (pois o coletor é reutilizável e o absorvente não né? Sem falar que este último possui um monte de substâncias químicas, e ao ser descartado no lixo, ou seja, na natureza, vai provocar um dano terrível ao planeta... ainda mais em grandes quantidades; imaginem quantos absorventes vão parar no lixo todo dia, no mundo todo?!!). E que ele é muito mais higiênico que os ditos absorventes, eu também sabia (pára pra pensar, o absorvente fica ali, horas abafando a sua Yoni*, o sangue coagulando e proporcionando inclusive a proliferação de fungos, porque a Yoni fica abafada, e fungo adora uma umidade e um calor...).
Enfim, a minha dificuldade era colocar o coletor lá dentro...
E isso tinha a ver (hoje eu entendo) muito mais com a minha relação com meu próprio corpo do que se o coletor prestava mesmo ou não.
Bem, nesse quase um ano de uso do Copo da Lua eu vou mencionar alguns aspectos positivos (os negativos são muito poucos, e para mim, são praticamente nulos) das experiências que venho tendo com ele ok? Sempre relacionando com a Espiritualidade Feminina, afinal, é do que mais se trata esse site! ;)
Sobre as experiências boas (diga-se, maravilhosas!) de se usar o coletor...
1. Eu colocaria como primeira, a mudança na relação que a gente tem com nosso próprio corpo. Ou seja, você começa a se olhar diferente, a se conhecer. Como falei antes, o corpo feminino ao longo dos últimos séculos foi sobrecarregado de tabus e proibições que só prejudicaram as mulheres. Nós não conhecemos nossos corpos, algumas (muitas) mulheres ainda têm nojo de seu próprio corpo, de sua yoni, de seu sangue, etc. É muito difícil ainda para a grande maioria das mulheres ter uma relação saudável com sua própria menstruação ou conseguir sentir prazer numa relação sexual... Porque por muito tempo, a mulher foi subjugada e condenada ao status de pecadora, e à ela só cabe sentir dor, não prazer. E isso é um absurdo! A mulher tem um órgão em seu corpo cuja função é unicamente proporcionar prazer a ela (estudos científicos recentes estão comprovando isso), e esse órgão é o clitóris. Mas muitas de nós sequer sabe o que é o clitóris... Fomos ensinadas a ser recatadas, a ver o sexo ou o desejo como pecado, e isso demora a ser desconstruído na psique de uma mulher... Demora mesmo, é um processo.
Pois enfim, voltando ao foco, quando usamos o Copo da Lua inevitavelmente entramos em contato com nossos corpos, com nossa yoni. Temos que tocá-la, saber onde ficam os grandes e pequenos lábios, a entrada da yoni etc. Ao contrário de usar absorvente que você apenas coloca na calcinha e depois tira e joga fora, sem mal olhar para o sangue que flui do seu ventre e muito menos para o seu órgão.
2. Segunda coisa legal de usar o coletor, você vê o seu sangue! E ele não fede (como acontece quando usamos absorventes, porque eles abafam ali a região, lembra?). Quando se tem uma compreensão diferente ou, melhor dizendo, sagrada com nosso sangue menstrual você o olha com outros olhos... Na Espiritualidade Feminina o sangue menstrual representa tudo aquilo que seu útero está limpando de seu corpo e da sua vida. Toda energia acumulada, estagnada ou em desarmonia que esteja em seu Ser durante o último ciclo, é eliminada de seu corpo. Vemos o sangue então, não como algo sujo ou impuro, mas como um fluxo sagrado de transformação. Ele está te limpando para que um novo ciclo possa começar. Todos os meses as mulheres vivem um ciclo de vida-morte-vida... Saber reconhecer a força desse momento é o primeiro passo para honrar-se como mulher sagrada que você é. E a cor vermelha?! Ah... Aquele vermelho vivo, intenso... É a cor da Vida!
3. Terceira coisa legal, você pode ficar até 12 horas com o coletor dentro de você! E então, é só lavar com sabão neutro, lavar sua Yoni e colocar de novo. Você pode tirar o coletor para limpar a cada 8 horas ou quando achar necessário, mas não recomendo que passe de 12 horas direto, porque aí sim o sangue (e o coletor) pode ficar com um cheiro ruim. Além disso, não vaza! Quem usou absorvente sabe como é uma chatice quando vaza sangue na calcinha né? Pois é, o coletor não deixa vazar nada! Só vaza se foi mal colocado (e para saber isso só você vai dizer, vai sentir... geralmente incomoda quando não está certinho no lugar). Ou seja, pode dormir de boas com o Copo da Lua!
4. Dê adeus aos gastos com absorventes descartáveis ou “ob’s”! Adoro passar pelas prateleiras de absorventes no supermercado e pensar: “Não preciso mais disso... ;)” . Mesmo que o coletor pareça caro no primeiro momento (em torno de 80 reais), compensa muito, pois a vida útil dele é de 10 anos. Sem falar que serão centenas de absorventes que você não irá jogar no lixo depois, né? Um pequeno alívio para a Mãe Terra...
5. Quando comecei a usar meu Copo da lua também comecei a fazer anotações sobre meu ciclo menstrual. Peguei um caderno simples, que chamo de “Caderno Lunar”, decorei com uma capa legal e me pus a anotar meus sonhos mais significativos, minhas sensações, intuições, emoções, pensamentos, algumas poesias, sempre registrando a fase da lua e a data em que vinha e ia embora minha “Lua Vermelha” (menstruação). Como se fosse um diário mesmo... Embora eu não escreva nele todo dia. Com o tempo você vai compreendendo melhor em qual fase da lua está mais disposta e em qual não está tanto assim... Em que momento você tem sonhos mais vívidos e o que eles significaram depois para você... O que suas emoções estavam lhe dizendo... E por aí vai. É um método muito interessante de autoconhecimento. Recomendo que façam isso, mesmo quem prefere não usar o coletor.
6. E a última coisa legal que menciono aqui (pois não dá para eu citar todas as coisas, estou relatando brevemente as que acho mais relevantes de escrever agora) é em relação ao modo de colocar o Copo da Lua. Como falei no início do texto, minha maior dificuldade era colocar o coletor, porque eu achava que o coletor era muito grande para mim, mas na verdade ele é do tamanho adequado e o problema estava em como eu estava tentando coloca-lo, ou seja, a posição. Quase todas as meninas que li comentando sobre essa questão e conversando com minhas amigas depois, diziam que a melhor posição para colocar o coletor era de cócoras. Quando fui tentar, na primeira vez não deu muito certo, pois estava tensa (e é muito importante que estejas relaxada), mas no dia seguinte na segunda tentativa deu tudo certo! Meu Copo da Lua entrou com facilidade e senti uma onda de alegria imensa! Com o tempo fui percebendo que a posição de cócoras carrega muito mais significado e simbolismo do que eu imaginava... As mulheres antigas quando se reuniam com outras mulheres na “tenda vermelha” (quando estavam todas menstruadas) costumavam ficar de cócoras em alguns momentos para deixar fluir na terra o sangue e ao mesmo tempo ofertar à Mãe-Terra esse sangue sagrado.
De cócoras é a posição que muitas mulheres dão à luz quando estão parindo uma criança.
De cócoras é a posição em que a figura/deidade mais emblemática e misteriosa, a meu ver, da mitologia celta se apresenta: Sheela-na-Gig. Ela está com as pernas bem abertas, com as mãos abrindo ou tocando a vulva, que mais parece um portal por onde algo ou alguém vai sair ou mesmo entrar. Sheela-na-Gig para mim está profundamente relacionada aos mistérios femininos, aos ciclos de vida-morte-vida e ao poder da Lua Vermelha que cada mulher carrega.
Todo mês, quando a Lua vem me visitar e eu me posiciono de cócoras para colocar meu Copo da Lua, eu penso em Sheela-na-Gig, me conecto com essa força ancestral, bem como com todas as minhas ancestrais... Me permito ser limpa, transformada e curada pelo meu sangue sagrado. E com isso abençoo meu útero, meu ventre e todas as minhas relações, seja com as mulheres que vieram antes de mim, seja com aquelas que virão depois.
Bem, era mais ou menos isso que tinha para compartilhar. Convido agora vocês, mulheres, irmãs, para refletirem e se quiserem experimentar e vivenciar não só o Copo da Lua, mas, sobretudo, o seu corpo e o seu sangue, que são sem dúvida Sagrados.
* Yoni: nome menos pejorativo e mais sagrado de chamar a vagina; proveniente da tradição hindu, especialmente do Tantra.
(Texto por Mayra Darona Ní Brighid. Escrito em 15/12/2015, Lua Nova).
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