Bem, vamos lá
discutir um tema pra lá de polêmico, e por isso mesmo interessante. Antes de
tudo quero deixar claro que vou expor aqui a minha visão ok? Não falarei em nome
de nenhum movimento do veganismo/vegetarianismo e nem do paganismo. Mas quero
despertar sobretudo no Paganismo, e especialmente no Druidismo (que é a
tradição a qual faço parte) essa reflexão. Reflexão, ok?! De forma nenhuma
quero impor minha ideia a alguém ou comunidade.
Pois bem, vamos lá.
Sou nova nesse
ramo do veganismo (embora eu não me considere vegana, e vou explicar mais
adiante o porquê). Nova mesmo, comecei a mudar meus hábitos alimentares tem
umas duas semanas. Mas bem antes disso já conhecia um pouco sobre a proposta do
movimento e a achava interessante. Eu decidi parar de comer carne (de gado e de
frango, ainda estou comendo peixe e lutando pra eliminar de vez o leite e ovos
da alimentação, mas já consegui reduzir bastante. Enfim, ainda estou em fase de
adaptação ^^ ). Essa decisão veio quando vi um vídeo de uma fazenda produtora
de laticínios na Nova Zelândia e a forma cruel como tratam as vacas e seus
filhotes... E não é difícil pensar que isso também ocorre no Brasil. As vacas
são mantidas constantemente prenhas, são fertilizadas artificialmente e quando
elas dão a luz, seu filhote é retirado dela poucas horas depois que nasce e
levado para morrer ou outro destino semelhante...
É visível o
sofrimento da vaca, e também do filhote... Isso mexeu muito comigo... E nessa
hora decidi que não queria fazer mais parte disso. Além disso, o fato de que
grande parte dos desmatamentos e conflitos de terra na Amazônia se dão em razão
dos latifúndios e fazendas de gado. Isso tudo contribuiu para a minha decisão. E
ainda tem mais um fator, há uns meses atrás eu tive plena consciência de que
meu corpo tem vida e vontade própria. Ok, quando a gente estuda paganismo e espiritualidades
antigas, a gente sabe que nosso corpo tem uma sabedoria... Mas entre saber e
ter consciência disso, é outra coisa... Sempre que eu comia um lanche desses de
rua ou fast food (de hambúrgueres a pizza) eu passava mal, de dar dor de
barriga pouco tempo depois que eu ingeria a comida. Percebi que era meu corpo
dizendo: “Moça, eu exijo respeito e não tolero essas porcarias que você põe pra
dentro. Obrigada, de nada”. Então, abaixei a cabeça e “ouvi” a sábia voz do meu
corpo...
Mas aí vem a questão, meus
ancestrais comiam carne, ofereciam inclusive uma parte do alimento às
divindades e usavam o couro para produzir desde roupas a tambores sagrados... Ok.
Verdade. MAS, meus ancestrais viviam em outro tempo e tinham uma outra relação
com os animais e tudo a sua volta. Eles cuidavam e criavam dos animais que um
dia seriam sacrificados e comidos em comunidade, havia um respeito muito maior
pela vida do animal do que temos hoje. Hoje o animal (e quase tudo em nossa
sociedade) é objetificado, mercantilizado, desconsidera-se qualquer dignidade a
sua vida e ao seu espírito (pois na visão pagã, os animais tem alma sim, e são
tão ou mais sábios/evoluídos do que os humanos). E, a não ser que você viva num
sítio ou fazenda e crie seus próprios animais, nós hoje não temos nenhuma
relação com eles, simplesmente pegamos um pedaço de carne na prateleira de um
supermercado e pronto.
Por isso
resolvi aderir ao vegetarianismo/veganismo, mas não me considero vegana... Pois
ainda toco meu tambor sagrado e tomo hidromel de vez em quando. Evito ao máximo
comprar produtos transgênicos e de marcas que agridem ao meio ambiente ou fazem
testes em animais. No entanto, não curto muito ficar compartilhando no facebook
coisas com imagens fortes ou cruéis de animais sendo mortos em abatedouros ou
coisa do tipo... (mas não critico quem faça isso, pois de certa forma isso dá
uma visibilidade importante para a questão. Ok, só não toda hora porque já é
demais rsrs).
Eu parei de
comer carne e laticínios no meu dia-a-dia, nesse contexto em que vivo, num meio
urbano e capitalista. Mas se um dia eu for para uma aldeia indígena ou comunidade
tradicional e me oferecerem um peixe ou uma comida com carne animal, eu aceito
sem problemas. Porque eu sei que a relação que os indígenas tem com o animal é bem
diferente da que nós, não-indígenas, temos na cidade. Eles agradecem ao rio ou
ao espírito do rio pelo peixe que foi dado, agradecem ao peixe que serviu como
alimento para toda a comunidade, agradecem antes e depois de caçar ou matar o
animal. E isso para mim, como pagã e druidista, é importante. Quantos
abatedouros fazem isso? ...
Agora, eu penso
que se toda a população do planeta parasse de comer qualquer tipo de carne, teríamos
um outro desequilíbrio. Porém, é fato que se no momento pararmos ou reduzirmos
consideravelmente o consumo de carne e laticínios vamos minimizar bastante os
problemas de desmatamento e aquecimento global. Sem falar que uma mudança como
essa não é só de hábitos alimentares, é também do modo de pensar e de se
relacionar com a própria comida. Você tem que fazer o seu alimento – ou seja, acabou
a vida de comer fora (a não ser que seja numa lanchonete/restaurante veg) –, e algumas
pessoas até plantam vegetais em suas hortinhas, o que é muito legal. E isso vai
totalmente ao encontro com o (neo)paganismo, que ensina que devemos retomar
nosso contato e relação profunda com a Terra.
Mas ainda é
difícil para um pagão ser vegano totalmente... (por algumas razões que citei acima...
o tambor, o hidromel...), embora conheça alguns que o são. Talvez precisemos
encontrar um equilíbrio, um meio termo e um termo propriamente... “Paganveg”?
Mas isso não importa muito, acredito que cada um deve seguir com seus
princípios e buscar uma alimentação mais consciente sim. Afinal, se acreditamos
que nosso corpo também é sagrado é importante refletir sobre o que colocamos dentro
dele.
Sobre virar veg
(ou “paganveg”?) ou parar de comer carne... Sim, é difícil no começo... É ser
contra todo um sistema que te impõe o que comer ou não comer. É nadar contra a
corrente, mas quem é pagão já tem nadadeiras mais fortes ;) .
(Não escrevi tudo o que queria
escrever, até porque não queria que fosse um texto longo e chato. E também foi
difícil traduzir em palavras escritas todas as ideias e pensamentos que ainda
estão borbulhando na minha mente sobre esse assunto. Mas espero que abra para a
reflexão no meio pagão e possamos discutir “de boas” essa e outras questões).
Parabéns e sucesso nesta nova fase!
ResponderExcluirParece que esse texto tem um tempo, mas eu gostaria de fazer uns adendos. Primeiro sobre a população do planeta parar de comer carne: bem, isso nao aconteceria, assim como nao acontece uma hora pra outra, a demanda vai diminuindo, logo, a inseminação artificial também vai seguindo a demanda. os bois, vacas e porcos nao estão "por ai" e a gente mantém o controle populacional deles. eles são forçados a existir por causa da demanda.
ResponderExcluirOutro adendo é sobre uma população "tradicional" ou aldeia. Bem, nenhum grupo cultural, nenhuma sociedade tá parada no tempo. Mesmo que com respeito aos rios, aos animais e etc, o animal morre e sofre do mesmo jeito. você nao sente o sofrimento no olhar dele? não é capaz de estender sua empatia ao animal? Se podemos não causar esse sofrimento e estender essa reflexão, porque nao faze-lo? Uma morte nao é mais justificável que outra. Talvez menos violenta, mas ainda sim violenta. E todos os grupos e sociedades são capazes de fazer novas reflexões e mudanças nas suas relações. Imagino que no paganismo existiam uma série de práticas e costumes que hoje são completamente inviáveis e anti éticas e que as pessoas não praticam mais. Porquê não pode haver também uma mudança nessa relação com os animais?