16 de dezembro de 2011

As funções dentro de um grupo druídico ou reconstrucionista celta


Nem todos os membros de um grupo druídico ou reconstrucionista celta (RC) sentem a aptidão ou vontade de serem de fato druidas, ou seja, sacerdotes ou sacerdotisas. Muitos têm profunda afinidade com a cultura celta e sua espiritualidade, mas não desejam ser druidas, vates ou bardos (os três caminhos ou estágios do sacerdócio druídico). Partindo desse ponto, muitos grupos RC's (re)criaram funções ou atribuições com as quais os membros se identificassem ou tivessem suas habilidades correspondentes a elas, baseando-se obviamente na cultura celta e na proposta de tribo ou clã.
Essa é, a propósito, uma diferença entre grupos druídicos (da época do 'renascimento druídico', no século XVIII) e grupos reconstrucionistas celtas, em que os primeiros preocupavam-se principalmente com a formação de sacerdotes (druidas). No Brasil, a maioria dos grupos, entre eles o nosso, apoiam-se numa abordagem reconstrucionista e aderem a essa visão, de diferentes funções entre seus membros, respeitando dessa forma a individualidade e habilidades de cada pessoa, e entendendo que cada indivíduo com sua respectiva função tem importância dentro de um Clan.
Segue uma breve explicação das principais funções ou atribuições dentro de um clã ou grupo druídico, assim como uma relação básica dos conhecimentos que cada uma deve comportar.

Sacerdócio:

Bardo ou Bardisa: deve estudar e conhecer a história e cultura dos povos celtas; mitologia e mitologia celta; poesia; música. Ser capaz de criar hinos aos deuses e deusas, poemas, canções, e saber tocar um ou mais instrumento musical.

Vate: conhecer as ervas e plantas da região, suas propriedades medicinais e místicas; saber jogar e interpretar oráculos; ser capaz de realizar jornadas espirituais, por meio de sonhos, viagens xamânicas etc. Saber curar. "Curar a si mesmo, curar a tribo, curar a Terra".

Druida ou Druidesa: espera-se que tenha a junção dos conhecimentos até então mencionados, além de noções sobre as leis célticas e brasileiras. É uma atribuição que resulta na verdade do tempo de sacerdócio, da dedicação ao grupo e, sobretudo, a sabedoria apresentada por essa pessoa.

Outras funções em um Clan:

Guerreiro(a): deve ter conhecimento sobre artes marciais; saber usar no momento certo a raiva (ou "furor da batalha"); entre as 9 virtudes, deve cultivar em especial a justiça e a coragem. Sua função principal é proteger a tribo dos "forasteiros" (pessoas, energias e tudo que possa ser hostil a paz do grupo e suas atividades) e lutar a favor de causas ecológicas e sociais.

Artesão: deve ter habilidade com as diversas artes, pintura, desenho, artesanato, enfim. Fornece material que sustenta as ações e a vida na tribo.

Devoto(a): é aquela pessoa que não quer necessariamente seguir o sacerdócio e nem sente muita afinidade com as outras funções, mas é devota dos Deuses e Deusas celtas, dedica-se ao culto a eles e às práticas diárias espirituais (preces, meditação etc.). 

Iniciante: É a pessoa que se encontra na primeira etapa de estudos e vivências do grupo, passando por um determinado tempo (que varia de um grupo para outro) de estudos e participação em ritos. Após esse tempo a pessoa pode decidir ou demonstrar, por suas habilidades e vocação, qual função deseja desenvolver.

Observador: é aquela pessoa que sente interesse em conhecer a cultura e espiritualidade celta e participa vez ou outra das atividades do grupo, podendo inclusive participar efetivamente dele caso queira se aprofundar.


O treinamento ou direcionamento de estudos para cada função pode durar 6 meses ou mais, dependendo da quantidade e complexidade dos assuntos a serem estudados. A forma utilizada é geralmente de aulas, rodas de conversas, meditações e vivências práticas (de artesanato, pintura, música, por exemplo). O aprendizado, contudo, é algo que se estende para a vida toda do indivíduo e não termina somente nesse direcionamento de estudos. É possível que uma pessoa sinta afinidade e queira conhecer várias atribuições, ser guerreira e bardo, por exemplo. E isso é perfeitamente possível, e ótimo até. Mas uma dessas funções provavelmente será a que ela desempenha e se sente melhor, e essa será considerada a sua atribuição principal dentro do grupo ou clan.
Vale ressaltar que há conhecimentos e ensinamentos da espiritualidade celta que são presentes em todas as funções, como as Nove Virtudes, a Awen/Imbas, por exemplo. Os mencionados acima seriam os específicos para cada função.
Importante esclarecer que todas essas funções são importantes e essenciais dentro de uma tribo, todos devem participar das atividades e rituais, não havendo uma hierarquia absoluta entre as funções. Mas devemos considerar que aquele que tem mais tempo, dedicação e conhecimento da tradição merece reconhecimento no grupo. Todos, porém, recém chegados ou antigos, devem ser respeitados.

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