(Foto de Kaarol Almeida)
As Estações (Olavo Bilac)
O inverno
Coro das quatro estações:
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da natureza!
O inverno:
Sou a estação do frio;
O céu está sombrio,
E o sol não tem calor.
Que vento nos caminhos!
Trago a tristeza aos ninhos,
E trago a morte à flor.
Há névoa no horizonte,
No campo e sobre o monte,
No vale e sobre o mar.
Os pássaros se encolhem,
Os velhos se recolhem
À casa a tiritar.
Porém fora a tristeza!
Em breve a natureza
Dá flores ao jardim:
Abramos a janela!
Outra estação mais bela
Já vem depois de mim.
Coro das quatro estações:
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da natureza!
A primavera
Coro das quatro estações:
Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a natureza!
Já nos voltou a alegria!
A primavera:
Eu sou a primavera!
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu!
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a primavera,
A flor das estações!
Coro das quatro estações;
Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a natureza!
Já nos voltou a alegria!
O verão
Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra destas mangueiras
O verão:
Sou o verão ardente:
Que, vivo e resplendente,
Acaba de nascer;
Nas matas abrasadas,
O fogo das queimadas
Começa a se acender.
Tudo de luz se cobre...
Dou alegria ao pobre;
Na roça a plantação
Expande-se, viceja,
Com a vinda benfazeja
Do próvido verão.
Sou o verão fecundo!
Nasce no céu profundo
Mais rutilo o arrebol...
A vida se levanta...
A natureza canta...
Sou a estação do sol!
Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra destas mangueiras.
O outono:
Sou a sazão mais rica:
A árvore frutifica
Durante esta estação;
No tempo da colheita,
A gente satisfeita
Saúda a criação,
Concede a natureza
O prêmio da riqueza
Ao bom trabalhador,
E enche, contente e ufana,
De júbilo a choupana
De cada lavrador,
Vede como do galho,
Molhado inda de orvalho,
Maduro o fruto cai...
Interrompendo as danças,
Aproveitai, crianças!
Os frutos apanhai!
Coro das quatro estações:
Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs! Enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!
***
“Da escuridão a
luz, da luz a escuridão”, é um verso encontrado em muitos poemas e preces de
origem e inspiração celta. Essas palavras referem-se a crença druídica de que
da noite nasce o dia, do inverno nasce a primavera, e da morte nasce a vida.
Para os celtas o dia começava com o pôr-do-sol, o ciclo anual começava no fim
do verão, ou seja, em Samhain (novembro), e os meses, segundo o Calendário de
Coligny, começam com a lua nova e têm na lua cheia o seu meio ou ápice.
Ao longo do ano
druidas/druidesas e politeístas celtas celebram geralmente oito festivais. Os
quatro a seguir são considerados os “grandes festivais” e foram largamente celebrados
pelos antigos povos celtas:
Oíche
Shamhna/Samhain
(entre 30 de outubro e 2 de novembro): festival que marca o fim do verão, representa
o fim e início do Ciclo e homenageia os antepassados.
Lá
Fhaile Bríde/Oímealg
(1 ou 2 de fevereiro): o primeiro sopro ou primeiro indício da primavera, festival
de purificação e fertilidade.
Lá
Bealtaine/Bealtaine (30
de abril - 1 de maio): o início do verão, ritos de fertilidade, cura e
prosperidade.
Lá
Fhaile Lœnasa/Lughnasadh (1 ou 2 de agosto): festival da colheita, início do
outono, celebra-se a fartura da natureza e reforça-se os laços entre a Tribo e
a Terra.
Além desses
festivais comumente celebram-se os Solstícios
de Verão (21 de junho) e Inverno
(21 de dezembro), e Equinócios de
Primavera (21 de março) e Outono (21
de setembro), momentos que marcam as estações e as transformações do clima e da
natureza como um todo.
Alguns grupos e
indivíduos acrescentam festivais ou devoções a deidades individuais ou de
acordo com o clima local, como um fenômeno natural do local que tenha
significado para eles. No Pacifico noroeste, por exemplo, reconstrucionistas
celtas celebram um festival anual na época dos salmões. Há alguns grupos de
Gales e França, que celebram um festival para Épona no mês de dezembro, e na
Ilha de Man muitos pagam tributos (oferecem junco, maçã e outros sacrifícios) à
Manannan por volta do solstício de verão.
De maneira
geral, as estações são marcadas por mudanças do clima e da paisagem local e não
da estrita observação de datas no calendário. Apesar de nos guiarmos por datas,
não nos fixamos nelas, pois os ciclos da natureza não se fixam. Alguns
druidistas, baseando-se no Calendário de Coligny, celebram os festivais na lua
cheia mais próxima da data, e dessa forma guiam-se pelo ciclo lunar, que é mais
natural do que seguir datas no calendário civil.
Os festivais sagrados
são marcados não só por aspectos temporais, climáticos, relacionados aos ciclos
da Natureza, mas também por aspectos míticos, simbólicos, atemporais, relacionados
aos ciclos de nossa vida, seja no âmbito interior ou exterior, emocional ou
físico, espiritual ou material.
Assim como a
natureza vive as estações, nós também vivemos as nossas estações. Vivemos a
Primavera quando somos (e nos sentimos) jovens e pulsamos energia e entusiasmo;
vivemos o Verão quando estamos plenos de vitalidade, paixão e fertilidade; o Outono,
quando colhemos os frutos de nossas ações e nos sentimos gratos pela
generosidade do universo; e o Inverno, quando acumulamos sabedoria diante das
inúmeras experiências vividas e recolhemos nossas energias dentro de nós mesmos
para, enfim, devolvê-las a Terra...
Ao celebrarmos
os festivais sagrados a intenção deve ser honrar os Deuses e ancestrais,
fortalecendo os laços entre eles e nós, e sintonizar ou alinhar os ciclos da
natureza com os ciclos de nossa vida. As dádivas provindas disso, dentre
muitas, são a cura (nossa e da Terra), a sabedoria diante dos mistérios da
Vida, e a compreensão serena diante das mudanças que tanto a natureza quanto
nós passamos.
(Texto utilizado na roda de conversa sobre Druidismo, em 16/06/12, Belém-PA, realizada pelo Nemeton Samaúma)
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