A família de sangue, bem, nasci
nela já e se foi por escolha ou não, não sei, mas amo a todos, apesar das diferenças
e discussões, são minha família. Cuidaram e cuidam de mim, assim como cuido e
cuidarei deles.
Minha família é católica, e
quando comecei a demonstrar interesse ainda na adolescência pelas religiões
antigas e paganismo sofri algumas (na verdade, muitas) discriminações dentro de
casa. Não podia realizar rituais, acender velas ou comprar livros sobre o
assunto que já ouvia coisas absurdas, como “isso não é coisa certa”, “isso não
é religião”, “isso é perigoso”, “isso é do mal”... E coisas semelhantes. Mesmo
que eu tentasse explicar, a discussão entre nós era inevitável. Mas com o
tempo, minha família foi vendo que as “coisas que eu lia” não me faziam mal, muito
pelo contrário, e a situação foi enfim amenizando e melhorando até o ponto de
não haver mais discussões sobre isso e até mesmo de familiares próximos me pedirem
para “colocar cartas” para eles (e até hoje ainda me pedem, e eu faço com muito
prazer!). No fim, com paciência e amor de ambas as partes houve compreensão e
respeito.
Sei que muitos que estão
estudando o Druidismo (ou outro ramo do paganismo) estão passando por situação
parecida a que vivi, e sei que é difícil. O que posso lhes dizer é tenham
paciência e sabedoria para enfrentar essa fase, pois ela é justamente isso, uma
fase. Tente tirar lições para sua vida desses desafios que lhe são postos.
Lembre-se que o ferro precisa ser várias vezes batido para torna-se forte o
bastante para uma espada, e é assim que A Senhora da Forja prepara seus filhos(as).
E que um(a) guerreiro(a) é considerado valoroso não por quantas batalhas
venceu, mas por quantas batalhas, vencidas e perdidas, sobreviveu e o quanto
aprendeu com elas. E é assim que A Grande Rainha testa seus filhos(as). No
mais, tenha em mente que um dia você terá a sua casa, o seu canto, e será livre
para exercer a sua espiritualidade do jeito que quiser.
A amizade sempre foi muito valorizada
na cultura irlandesa, e céltica como um todo. É conhecida a obra de John
Donohue, “Anam Cara” (termo traduzido como “Amigo de Alma”), em que contêm a belíssima
Oração da Amizade:
“Que sejas abençoado com bons
amigos.
Que aprendas a ser um bom amigo
para ti mesmo.
Que sejas capaz de viajar àquele
lugar na tua alma onde existe o grande amor, calidez, sentimento e perdão.
Que isso te modifique.
Que isso transfigure o que é
negativo, distante ou frio em ti.
Que sejas apresentado à
verdadeira paixão, parentesco e afinidade da vinculação.
Que prezes os teus amigos.
Que sejas bom para eles e que
estejas lá para eles; que eles te tragam todas as bênçãos, desafios, verdade e
luz de que necessitas para a tua viagem.
Que nunca fiques isolado.
Que sempre fiques no sereno refúgio
da vinculação com o teu Anam Cara”.
Tenho grande carinho pelos meus
amigos e amigas do caminho druídico. Mais do que amigos, eles são meus irmãos e
irmãs, pois alguns eu conheço desde quando comecei a engatinhar no Druidismo (e
sinceramente, ainda acho que estou engatinhando rs), há cerca de sete ou oito
anos atrás. Wallace, Andréa, Simão e Marcos, foram os primeiros que tive
contato, além de amigos, eles foram (e ainda são) meus mestres e mestras,
ensinando-me muitas coisas e indicando o caminho quando precisava de auxílio. A
eles sou eternamente grata e nutro um enorme sentimento de amizade e carinho.
Seguindo na estrada encontrei
outros amigos-irmãos, como Eldrich, Alessah, Endovelicon, Rowena, Renata, Hugo,
Rafael, Náthaly, Marcela, Vera, Juliana, JP, Sheila, João, Bellovesos, Marina,
Jéfferson, Suênia, Marcílio, Paula e tantos outros (porque a família é grande! e
tenho certeza que esqueci de citar algum nome, mas estão todos no meu coração
^^).
Com alguns tenho mais contato do
que com outros, e também mais afinidade, mas sinto que todos fazemos parte da
mesma família. E é incrível como somos invadidos por um sentimento de união,
amizade, amor e alegria quando nos encontramos (quem já esteve em um Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta, sabe muito bem do que estou
dizendo), e também da saudade que bate quando nos distanciamos após um EBDRC (e
com a saudade vem a ansiedade para logo participar do próximo!).
Em muitos momentos de dificuldade
que passei, só o fato de pensar nessas pessoas e nos momentos maravilhosos que
vivi ao lado delas me deu forças para prosseguir. A lembrança das rodas de
conversas, da música e boa bebida ao redor de uma fogueira, da celebração
conjunta de ritos sagrados, da alegria entre amigos... aquecia (e aquece) meu
coração com bons sentimentos e enche de alegria minha alma. Alguns podem achar
isso tudo meio exagerado. Que achem, não me importo. Mas que essas coisas a
gente só sente quando os laços que nos une são realmente fortes e quando somos
mesmo uma família, isso é. E é o que somos na verdade, uma família de alma, a família
druídica brasileira.
À minha família de sangue e de
alma quero dizer apenas muito obrigada pelos desafios e pelas alegrias, e que
eu amo muito todos vocês...! :)
(Foto durante o III EBDRC)
"E um jovem disse, Fala-nos da Amizade.
E ele respondeu, dizendo:
O vosso amigo é a resposta às vossas necessidades.
Ele é o campo que cultivais com amor e colheis com gratidão.
E é o vosso apoio e o vosso abrigo.
Pois ides até ele com fome e procurai-lo para terdes paz.
Quando o vosso amigo fala livremente, vós não receais o "não", nem retendes
o " não".
E quando ele está calado o vosso coração não deixa de ouvir o coração dele;
Pois na amizade, todos os pensamentos, todos os desejos, todas as esperanças
nascem e são partilhadas sem palavras, com alegria.
Quando vos separais de um amigo não fiqueis em dor, pois aquilo que mais
amais nele tornar-se-à mais claro com a sua ausência, tal como a montanha, para
quem a escala, é mais nítida vista da planície.
E não deixeis que haja outro propósito na amizade que não o aprofundamento
do espírito.
Pois o amor que só procura a revelação do seu próprio mistério, não é amor
mas uma rede lançada que só apanha o que não é essencial.
E deixai que o que de melhor há em vós seja para o vosso amigo.
Já que ele tem de conhecer o refluxo da vossa maré, que conheça também o
seu fluxo.
Pois para que serve o vosso amigo se só o procurais para matar o tempo?
Procurai-o também para viver.
Pois ele preencher-vos-à os desejos, mas não o vazio.
E na doçura da amizade que haja alegria e a partilha de prazeres.
Pois é nas pequenas coisas que o coração encontra a frescura da sua manhã."
("Sobre a Amizade", de Khalil Gibran, em O Profeta).
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