13 de janeiro de 2013

28. Caminho


(Celtoi Volveci, um evento cultural céltico que acontece na Europa)

A tribo tem lugar para todos e todos fazem parte da tribo. Druida, vate, bardo, guerreiro, artesão, devoto, músico... Todos são importantes e necessários para a comunidade. Muitos grupos que seguem a linha reconstrucionista procuram manter essa ideia de várias funções dentro de um bosque ou grupo druídico, pois é óbvio que não existia apenas druidas ou bardos em uma tribo céltica, mas também guerreiros, ferreiros, agricultores, curadores etc. Algumas funções antigas são possíveis de serem adaptadas e ressignificadas para os grupos de hoje, outras não são, e outras ainda são criadas para suprir uma necessidade do próprio grupo.

No caminho do sacerdócio existem três funções, distintas entre si, mas ao mesmo tempo muito relacionadas. O bardo ou bardisa é o conhecedor profundo da história e dos mitos celtas. É o poeta - ou poetisa - sagrado, que compõe hinos, preces e canções aos deuses e ancestrais sob a influência da inspiração divina. O vate (uátis) é semelhante ao xamã ou pajé, pois é capaz de interpretar os presságios na natureza e nos oráculos, de visitar Outros Mundos e adquirir conhecimentos profundos dos ancestrais e seres feéricos ou encantados. Além disso, são capazes de realizar ou facilitar a cura por meio de preces, banhos, chás, ervas e outras formas de medicina (tradicional e/ou ocidental). O druida ou druidesa reúne de certa forma conhecimentos do bardo e do vate, mas vai um pouco mais além. Ele(a) deve ser versado na história e cultura do(s) povo(s) celta(s), conhecer as leis célticas e, sobretudo, as brasileiras (pois vivemos no Brasil, dã, rsrs) ou do local em que vive. De forma geral, o druida ou druidesa é uma atribuição que resulta do longo tempo de sacerdócio e de vivência no Druidismo, da dedicação ao grupo e, principalmente, da grande sabedoria apresentada por essa pessoa.

As funções não associadas ao sacerdócio são...
O guerreiro(a), que deve ter conhecimento ou mesmo a prática de artes marciais. Deve saber usar no momento adequado a raiva ou o "furor da batalha", não para matar inimigos, mas para conquistar seus desafios. Entre as nove virtudes, ele(a) deve cultivar em especial a Justiça e a Coragem. Sua função principal é proteger a tribo dos "forasteiros" (pessoas, energias e tudo que possa ser hostil à paz do grupo e suas atividades).
O artesão ou artesã é aquele(a) que possui habilidade com as diversas artes (pintura, desenho, artesanato, enfim). Fornece o material que sustenta as ações e a vida na tribo.
O devoto é aquela pessoa que não sente vontade ou vocação de seguir o sacerdócio e também não sente muita afinidade pelas outras funções, mas nutre uma grande ligação com a cultura celta e dedica-se a prática e estudo do Druidismo. O devoto ou devota mantém o culto aos deuses e ancestrais e às práticas diárias espirituais (preces, meditação, ritos etc.).
(Celtoi Volveci)

Outras funções podem ser acrescentadas e elas variam de grupo para grupo. Pode existir, por exemplo, a função do músico, que não é necessariamente o bardo, mas também compõe canções e músicas para as celebrações e festivais do grupo.
É possível também que uma pessoa sinta afinidade por mais de um caminho e queira dedicar-se a duas ou mais funções, como por exemplo, ser artesão e também bardo. Isso é perfeitamente possível, e ótimo até. Mas uma dessas funções provavelmente será a que ela desempenha e se sente melhor. Nesse caso, essa será considerada a sua função principal dentro do grupo.
Há conhecimentos da cultura e espiritualidade celta que todas as funções deverão cultivar, como, por exemplo, as Nove Virtudes e a Inspiração (Awen ou Imbas). O que foi mencionado acima seriam os conhecimentos específicos de cada caminho. Evidente que nem todos os grupos druídicos tem todas essas funções, pois isso requer que haja no mínimo seis ou sete membros no grupo, e são poucos os grupos no Brasil que apresentam mais de três ou quatro membros. Contudo, é um sonho de muitos (inclusive meu rs) de ter uma tribo (tuath; touta) relativamente grande, ao menos o suficiente para acolher essas ou outras funções/caminhos.

Todos nós temos um caminho, uma vocação, carregada de habilidades e afinidades muito particulares. Algo que só nós sabemos fazer e fazer bem, da nossa forma. Chamamos isso de dán, a nossa vocação, nosso dom... E o dom não pode ficar armazenado dentro de nós, ele tem que agir no mundo, tem que escoar, como uma torrente de inspiração, que toca os que estão a nossa volta e retorna para nós, fazendo um ciclo... A Inspiração é como a água, se parada acumula limo e não tem muita serventia, mas se corrente purifica e abençoa o caminho que percorre.

Quando cada pessoa tem uma função e dedica-se a ela dentro de um grupo druídico, ela sente-se realmente parte daquela tribo, daquela cultura, ou melhor, daquela família... Ela sente que pode, e realmente pode, contribuir muito com seu dán dentro do grupo.

Compor uma canção ou música para ser recitada em um festival sagrado, preparar uma deliciosa refeição para ser compartilhada por todos do grupo, aconselhar com sabedoria os que precisam de ajuda, curar por meio de preces, banhos, chás etc. alguém que necessita de uma cura (física e/ou espiritual), enfim, são formas dentre muitas outras de exercer seu dán, sua vocação ou função, dentro do grupo. Para alguns podem parecer ações pequenas, mas para os membros da Tribo e para os Deuses, são ações de suma importância e que merecem devido valor e reconhecimento.

E você, já descobriu seu dom? Já percebeu qual caminho sua alma sente profunda afinidade? Se sim, ótimo! Exerça-o com sabedoria, dedicação e alegria, e tenho certeza que todos serão beneficiados. Se ainda não, não se preocupe, tudo tem seu tempo e os Deuses lhe encaminharão no momento certo ao caminho que você deve trilhar. Você irá descobrir seu caminho ou o caminho descobrirá você. Ou então, crie seu caminho! Deixe ele brotar de dentro de você. No mais, não tenhas pressa... Segue em paz e aproveita a jornada!

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