14 de dezembro de 2012

11. Ritual

Fogo, água e terra. É o que compõe meu altar quando realizo um ritual. Além disso, há representações e símbolos das Três Famílias que estão sempre ali em cima da mesinha.
Celebro os 8 festivais ao longo do ano, e sempre que possível a lua cheia e também a lua vermelha (menstruação). As celebrações vão desde um ritual relativamente elaborado até um simples ato de meditação/visualização, e isso depende muito de qual celebração seja e da espontaneidade e inspiração que me toca no momento.

Elaborei há pouco tempo duas “liturgias” druídicas, mas ainda as estou “experimentando”. A primeira eu sinto que funciona melhor quando realizada em grupo ou a partir de três pessoas. A segunda pode ser realizada em grupo, mas funciona melhor ainda se realizada sozinho. Sinto também que quanto mais simples as invocações e chamados, ou seja, quanto menos formalidades, ritualismos e “fru-frus” melhor, tanto pros Deuses quanto pra nós mesmos. A musicalidade, o uso de cânticos e músicas sagradas é maravilhoso num ritual, e acho que provocam mais efeitos do que um rito sem música ou canções e só com falas elaboradas e seriedade excessiva. A musicalidade tinha uma grande importância nas culturas celtas antigas e atuais, e não pode ser deixada de fora numa celebração druídica. Além do mais, quem não gosta de boa música?

Celebro outros tipos de rituais também em um ciclo anual, como o aniversário de nascimento da minha avó materna (que já foi para o Grande Mar), aniversário de namoro e casamento, meu próprio aniversário, a lua nova, o nascer de uma flor de uma planta que estava quase morrendo, um banho gostoso depois de um dia quente e cansativo, o deitar na cama quando os olhos já não aguentam de sono, o abraço apertado de alguém amado que há tempos não via, o almoço que reúne a família...
Na verdade, todo dia realizo rituais, pois meus dias são cheios de momentos sagrados, e o ritual nada mais é do que celebrar a vida e a sacralidade nela contida. Ritual, para mim, não é só aquele momento em que acendemos um fogo, chamamos os deuses e lembramos os antigos. Uma meditação/visualização profunda, ou uma batida no tambor para a lua, ou uma libação sincera aos ancestrais, assim como uma prece espontânea e inspirada diante de uma chama ou incenso aceso, é também Ritual, e às vezes essas simples ações têm mais força e magia do que um ritual longo e complexo.

Muitos dizem que não conseguem celebrar os festivais célticos em suas casas, seja por falta de privacidade ou de liberdade. Mas para celebrar um festival ou outro rito não é necessário fazer um ritual com velas, fogueira, diante de um poço sagrado sob a lua e usando uma túnica esvoaçando ao vento... Seria bem legal se desse, mas isso não é estritamente necessário. Estude uns dias antes os mitos, símbolos e costumes relacionados ao festival em questão, marque um dia e tente fazer uma meditação, recitar um poema (de sua autoria ou não) e/ou proferir uma prece dedicada aquele momento sagrado. Para celebrar a vida e se harmonizar à Natureza não precisa muito, basta vontade, concentração, criatividade e inspiração. Por mais que pareça pouco, acredite, isso será muito. Você e os Deuses sentirão...

(imagem do site alfsaga.com)

Termino compartilhando as palavras do sábio e poeta Khalil Gibran, a quem tenho grande admiração.

“E um velho sacerdote disse, Fala-nos da Religião.
E ele respondeu:
Terei falado de outra coisa até agora?
Não será a religião senão todos os actos e toda a reflexão, e tudo aquilo que
não é acto nem reflexão, mas encantamento e surpresa sempre emergentes da
alma, mesmo quando as mãos talham a pedra ou trabalham no tear?
Quem poderá separar a sua fé das suas acções, ou as suas crenças das suas
ocupações?
Quem pode estender as suas horas perante ele dizendo,
"Isto é para Deus e isto é para mim, isto é para a minha alma e isto para o
meu corpo?"
Todas as vossas horas são asas que voam no espaço de um eu para o outro eu.
Aquele que usa a sua moral como a sua melhor indumentária faria melhor se
andasse nu.
O vento e o sol não abrirão buracos na sua pele.
E aquele que rege a sua conduta pela ética está a aprisionar numa gaiola o
pássaro que canta.
Os cânticos mais livres não saem através de grades nem grilhetas.
E aquele para quem a devoção é uma janela, para abrir mas também para
fechar, ainda não visitou a morada da sua alma cujas janelas vão de aurora a
aurora.
A vossa vida diária é o vosso templo e a vossa religião.
Cada vez que entrais nela, entrai por inteiro.
Levai a charrua e a forja, o maço e a lira.
As coisas de que precisais por necessidade ou prazer.
Pois em sonhos não podereis erguer-vos acima dos vossos feitos, nem cair
mais baixo do que as vossas falhas.
E levai convosco todos os homens, pois na adoração não podereis voar mais
alto do que as suas esperanças, nem humilhar-vos mais baixo do que o seu
desespero.
E se quereis conhecer Deus, não pretendais resolver enigmas.
Olhai antes à vossa volta e vê-Lo-eis a brincar com os vossos filhos.
E olhai para o espaço;
Vê-Lo-eis a caminhar sobre as nuvens, de braços estendidos para a luz,
descendo sobre a chuva.
Vê-Lo-eis sorrindo no meio das flores, e depois erguer-se e agitar as árvores
com as Suas mãos.”

(“Sobre a Religião”, do livro “O Profeta”, de Khalil Gibran).

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