Acredito que nem todos os lugares
são sagrados, mas todos (sem exceção) possuem uma energia, alma ou egrégora
(como alguns chamam). Nem sempre essa energia está propícia ou ideal para
realizar um rito ou celebrar um festival, por exemplo. Algumas pessoas são
sensíveis e conseguem perceber a energia de um local, outras consultam oráculos
para saber tais coisas. Eu sou um pouco sensível, consigo perceber por meio de
sensações e sentimentos e às vezes também por imagens que surgem em minha
mente, revelando-me sobre o tipo de energia que circula em tal local.
Quando estive na Irlanda (ah a Irlanda...
*suspiros de saudade*), conheci dois lugares onde senti uma forte energia
sagrada, Loughcrew e Cliffs of Moher. Não foram apenas esses lugares que me
encantaram, mas com certeza foram os que mais me marcaram.
Loughcrew, uma tumba
neolítica, um Cairn, como são chamados, localizada no alto de uma colina e
rodeada por dois outros Cairns, menores. O corredor contêm pedras enormes com símbolos,
a maioria sendo espirais, e leva ao centro da tumba composta por três câmaras,
onde as paredes e pedras centrais estão repletas de símbolos antigos, e a pedra
principal (na câmara do meio) é iluminada em todo equinócio de outono e
primavera.
Cliffs of Moher é um incrível despenhadeiro,
no lado oeste da Irlanda. Com a terra verde e sagrada sob os nossos pés, o mar
em um lindo tom de azul profundo a nossa frente e ao redor, e o céu maravilhoso
sobre nós, é impossível não sentir o poder daquele lugar. As ondas batendo no
penhasco, o vento forte e frio despenteando nossos cabelos e atrás a Ilha
Esmeralda nos sorrindo... Que lugar mágico! Ali era fácil encontrar alguns
músicos tocando uma harpa, whistle, bandolim ou outro instrumento. Enquanto
eles nos davam a trilha sonora dali, nós oferecíamos uma contribuição em
dinheiro a eles, com um gesto de agradecimento e estímulo ao seu trabalho.
Saindo da Irlanda e retornando a “Hy
Braesil” (Brasil) também encontro lugares sagrados. Adoro passar por manguezais
no interior do Pará, pois são moradas dos encantados da mata e das águas. A
praia do Pesqueiro em Soure (Ilha do Marajó/PA) além de linda é encantada, pois
além de ser morada de encantados, ela recebe águas doces e salgadas em
diferentes épocas do ano, e isso quer dizer que ela recebe as energias tanto do
rio quanto do mar.
(Praia do Pesqueiro, em Soure, Marajó/PA. Foto de meus arquivos pessoais)
O horto florestal em Rio Branco/AC
também me despertou sensações interessantes. Ali, onde a mata é densa e conservada,
basta andarmos alguns minutos por dentro da trilha e é possível sentir-se fora
da cidade e de fato na floresta. O cheiro úmido da terra, o canto dos pássaros
ao redor e as árvores enormes nos observando são de provocar arrepios.
Além desses lugares, naturais,
digamos assim, há também o meu altar, que fica em um pequeno quarto no lado leste
da casa, e é onde realizo grande parte de minhas práticas religiosas e
devocionais, mas não é o único lugar onde faço isso. A energia dali já está propícia
para um ritual ou celebração, mas não é somente ali que os Deuses podem se
comunicar comigo e eu me comunicar com eles. Acho importante termos um altar ou
centro devocional em nossas casas, acredito que os povos celtas tinham, obviamente
que de forma diferente da que temos hoje, mas tinham, seja na forma de um fogo
ou lareira central ou em um espaço dentro da casa e próprio para isso ou nos
arredores do lar, aos pés de uma árvore, pedra ou poço, ou todas essas formas.
Mas mais importante do que ter um altar, é termos a serenidade e sabedoria
dentro de nós para que sejamos o próprio altar. O altar é apenas a extensão de
algo que devemos manter dentro de cada um de nós.
Entendo que o sagrado é a
interseção do divino com o mundano (ou o cotidiano). Nem todo local é sagrado,
mas com certeza qualquer local pode se tornar sagrado, pois o divino, os Deuses
e Deusas, podem se manifestar ali e em qualquer lugar, objeto ou pessoa, em
diferentes maneiras. Basta sabermos olhar, escutar e sentir para entendermos o
que eles têm a nos dizer e ensinar.
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