A Mãe da Mata recebe o Sol entre
suas folhagens, e o abraça como quem abraça um amante. Seu doce e quente amante...
Ele aquece a terra e derrama
sobre seu corpo belo e fecundo beijos de luz e águas do céu, que correm pela
terra e trazem bençãos ao mundo.
O calor e o poder, entretanto,
tornam nosso rei tirano.
A Mãe da Mata sente cada vez mais
a secura do tempo e o fogo do Sol. Ela clama pela ajuda de seu outro amado
amigo, que reunia forças enquanto reinava o Sol.
O Rei das Águas agora mais forte depois da derrota passada desafia o Rei Sol e almeja recuperar a coroa, e também os beijos de sua amada.
O Rei das Águas agora mais forte depois da derrota passada desafia o Rei Sol e almeja recuperar a coroa, e também os beijos de sua amada.
Secretamente a Mãe da Mata apoia
o Rei das Águas, pois nada justifica a tirania do Sol. Gente e bicho já não
suportam tanto calor, e todos suplicam pela ajuda do Rei das Águas, a quem Mãe
da Mata agora dedica seu amor.
Portando sua lança-trovão, o Rei
das Águas tem o poder das tempestades e envia nuvens de chuva para esconder a
luz do Sol, assento do velho rei e fonte de seu poder.
O Rei Sol apesar de cansado ainda
resiste à batalha, mas não por muito tempo. O Rei das Águas é forte e jovem, é
moço bonito e determinado a tomar a coroa.
Depois de muitas lutas entre o
Sol e a Chuva, o Rei das Águas vence e o Rei Sol se recolhe à sua morada. Deixa
a Mãe da Mata, triste e derrotado, mas no fundo sabia que uma pausa precisava.
Gente e bicho comemoram e saúdam
o novo rei. É tempo das águas grandes, chuvas fortes e refrescantes!
O Rei das Águas é coroado, o sol
se esconde entre as nuvens, mas ainda tem forças e espia lá de cima. E os rios,
antes finos e secos, agora se enchem em abundância.
A Mãe da Mata recebe seu amado
entre as folhas e raízes de sua saia. Ele a envolve em beijos que a inundam e
abraços que a fecundam.
Rios invadem a terra, purificam e
renovam as matas. No entanto, trazem também algumas doenças. Mosquitos se
multiplicam e casas são alagadas.
As águas e o poder tornam com o
tempo o nosso rei tirano. E a Mãe da Mata cansada de tanta água, afogada em
tanto amor, clama pela ajuda de seu amigo anterior, que reunia forças enquanto
as Águas reinavam.
O Rei Sol agora mais forte depois
da derrota passada desafia o Rei das Águas e almeja recuperar a coroa, assim
como os beijos de sua amada.
Secretamente a Mãe da Mata apoia
o Rei Sol, pois nada justifica a tirania das Águas.
E assim a Vida continua... E assim
a dança nunca termina.
(Um conto sobre a Dança do Amor e da Guerra entre o Sol, a Chuva e a
Terra, por Darona Ní Brighid).
É mais ou menos assim que penso e
sinto a Roda do Ano em minha região. Adoro o mito de Bríde, Beira e Angus, do
Rei Azevinho e Rei Carvalho, de Creudillad, Gwynn e Gwythyr, que retratam a
dança e a disputa mística das estações. Mas estou na Amazônia e aqui essa dança
assume outras formas e protagonistas, tão belos e sagrados quanto das terras
célticas.
Cresci ouvindo que na primeira
metade do ano (especificamente a partir de março) é verão, o nosso verão
amazônico, tempo de sol, calor intenso e poucas chuvas, momento perfeito para
aproveitar as praias e igarapés. E na segunda metade do ano (a partir do final
de setembro) é inverno, tempo chuvoso e de rios com águas abundantes.
Quando comecei a estudar
paganismo e a ler sobre a Roda do Ano, naturalmente segui a roda norte
(festivais pelo hemisfério norte), pois fez (e faz) mais sentido para mim do
que a roda sul (pelo h. sul), justamente por toda essa cultura e saber que já nasci
embebida. Com o tempo fui conhecendo outros pagãos nortistas que também seguiam
a roda norte, apesar de todos os que moram nas outras regiões do Brasil
seguirem a roda sul, o que claro, faz todo o sentido para quem vive ali. Há
ainda quem siga a roda mista (celebrando os 4 festivais célticos pelo norte, e
as estações pelo sul). E o que tenho a dizer sobre isso? Que o Brasil já é
diverso em sua cultura, sotaques e crenças, por que não haveria de ser diverso
também o Druidismo aqui? Não vejo isso como ruim. Nenhuma religião é homogênea,
pois cada indivíduo apesar de compartilhar da mesma crença religiosa, pensa e
sente diferente do outro. O próprio planeta é diverso e uno ao mesmo tempo,
pois todas as diferenças de região, flora e fauna se reúnem em só lugar, a
Terra.
Muitos amigos druidistas não
entendiam porque eu celebrava pela roda norte, se estamos em pleno Brasil, no
hemisfério sul. Até expliquei as questões do clima, a ideia do verão e inverno
amazônico etc. Mas só passando um ano aqui para entender mesmo como é. Pode até
dar um nó da cabeça de alguém, mas a cultura celta é cheia de nós mesmo.
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