14 de dezembro de 2012

12. Roda do Ano


O Rei Sol é coroado, as águas se recolhem e o calor domina.
A Mãe da Mata recebe o Sol entre suas folhagens, e o abraça como quem abraça um amante. Seu doce e quente amante...
Ele aquece a terra e derrama sobre seu corpo belo e fecundo beijos de luz e águas do céu, que correm pela terra e trazem bençãos ao mundo.
O calor e o poder, entretanto, tornam nosso rei tirano.
A Mãe da Mata sente cada vez mais a secura do tempo e o fogo do Sol. Ela clama pela ajuda de seu outro amado amigo, que reunia forças enquanto reinava o Sol.
O Rei das Águas agora mais forte depois da derrota passada desafia o Rei Sol e almeja recuperar a coroa, e também os beijos de sua amada.
Secretamente a Mãe da Mata apoia o Rei das Águas, pois nada justifica a tirania do Sol. Gente e bicho já não suportam tanto calor, e todos suplicam pela ajuda do Rei das Águas, a quem Mãe da Mata agora dedica seu amor.
Portando sua lança-trovão, o Rei das Águas tem o poder das tempestades e envia nuvens de chuva para esconder a luz do Sol, assento do velho rei e fonte de seu poder.
O Rei Sol apesar de cansado ainda resiste à batalha, mas não por muito tempo. O Rei das Águas é forte e jovem, é moço bonito e determinado a tomar a coroa.
Depois de muitas lutas entre o Sol e a Chuva, o Rei das Águas vence e o Rei Sol se recolhe à sua morada. Deixa a Mãe da Mata, triste e derrotado, mas no fundo sabia que uma pausa precisava.
Gente e bicho comemoram e saúdam o novo rei. É tempo das águas grandes, chuvas fortes e refrescantes!
O Rei das Águas é coroado, o sol se esconde entre as nuvens, mas ainda tem forças e espia lá de cima. E os rios, antes finos e secos, agora se enchem em abundância.
A Mãe da Mata recebe seu amado entre as folhas e raízes de sua saia. Ele a envolve em beijos que a inundam e abraços que a fecundam.
Rios invadem a terra, purificam e renovam as matas. No entanto, trazem também algumas doenças. Mosquitos se multiplicam e casas são alagadas.
As águas e o poder tornam com o tempo o nosso rei tirano. E a Mãe da Mata cansada de tanta água, afogada em tanto amor, clama pela ajuda de seu amigo anterior, que reunia forças enquanto as Águas reinavam.
O Rei Sol agora mais forte depois da derrota passada desafia o Rei das Águas e almeja recuperar a coroa, assim como os beijos de sua amada.
Secretamente a Mãe da Mata apoia o Rei Sol, pois nada justifica a tirania das Águas.
E assim a Vida continua... E assim a dança nunca termina.

(Um conto sobre a Dança do Amor e da Guerra entre o Sol, a Chuva e a Terra, por Darona Ní Brighid).

É mais ou menos assim que penso e sinto a Roda do Ano em minha região. Adoro o mito de Bríde, Beira e Angus, do Rei Azevinho e Rei Carvalho, de Creudillad, Gwynn e Gwythyr, que retratam a dança e a disputa mística das estações. Mas estou na Amazônia e aqui essa dança assume outras formas e protagonistas, tão belos e sagrados quanto das terras célticas.

Cresci ouvindo que na primeira metade do ano (especificamente a partir de março) é verão, o nosso verão amazônico, tempo de sol, calor intenso e poucas chuvas, momento perfeito para aproveitar as praias e igarapés. E na segunda metade do ano (a partir do final de setembro) é inverno, tempo chuvoso e de rios com águas abundantes.
Quando comecei a estudar paganismo e a ler sobre a Roda do Ano, naturalmente segui a roda norte (festivais pelo hemisfério norte), pois fez (e faz) mais sentido para mim do que a roda sul (pelo h. sul), justamente por toda essa cultura e saber que já nasci embebida. Com o tempo fui conhecendo outros pagãos nortistas que também seguiam a roda norte, apesar de todos os que moram nas outras regiões do Brasil seguirem a roda sul, o que claro, faz todo o sentido para quem vive ali. Há ainda quem siga a roda mista (celebrando os 4 festivais célticos pelo norte, e as estações pelo sul). E o que tenho a dizer sobre isso? Que o Brasil já é diverso em sua cultura, sotaques e crenças, por que não haveria de ser diverso também o Druidismo aqui? Não vejo isso como ruim. Nenhuma religião é homogênea, pois cada indivíduo apesar de compartilhar da mesma crença religiosa, pensa e sente diferente do outro. O próprio planeta é diverso e uno ao mesmo tempo, pois todas as diferenças de região, flora e fauna se reúnem em só lugar, a Terra.
Muitos amigos druidistas não entendiam porque eu celebrava pela roda norte, se estamos em pleno Brasil, no hemisfério sul. Até expliquei as questões do clima, a ideia do verão e inverno amazônico etc. Mas só passando um ano aqui para entender mesmo como é. Pode até dar um nó da cabeça de alguém, mas a cultura celta é cheia de nós mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário