22 de dezembro de 2012

16. Poesia

Canto o Caldeirão do Movimento,
graça compreensível,
conhecimento reunido,
fluente inspiração poética como o leite do peito,
é o auge da maré do conhecimento,
união de sábios,
correnteza de soberania,
glória dos humildes,
maestria das palavras,
rápido entendimento,
sátira enrubescedora,
artesão de histórias,
cuidando dos alunos,
procurando princípios obrigatórios,
distinguindo as complexidades da linguagem,
movendo-se rumo à música,
propagação da boa sabedoria,
nobreza enriquecedora,
enobrecendo os não-nobres,
exaltando os nomes,
relatando louvores
por meio do trabalho da lei,
comparação de dignidades,
a bebida nobre em que é fervida
a raiz verdadeira de todo conhecimento,
que entrega em razão do respeito,
que cresce em razão da diligência,
cujo êxtase poético põe em movimento,
cuja alegria vira,
que é revelado por meio da tristeza,
proteção que não diminui,
canto o Caldeirão do Movimento.

(Caldeirão da Poesia, atribuída a Amhaergin, tradução de Bellovesos)


Só mesmo uma pessoa muito insensível ou ignorante para não gostar de poesia. Nem todos possuem dom para escrever poesia, mas todos apreciam ler ou ouvir uma.
Melhor do que a prosa, a poesia consegue expressar os sentimentos, sensações e intuições de forma magnífica e profunda, justamente porque a linguagem de todas elas é a mesma, a simbólica.

Acho que não existe uma religião que dê tanto destaque a poesia (ou a arte, em geral) e a quem a escreve como o Druidismo. Os bardos ou fíli eram (e são) aqueles que, depois de passar por um longo treinamento de memorização e estudos, detinham a memória de várias poesias e histórias da comunidade. Guardavam-nas no “Santuário que Preserva” e também criavam novas poesias e contos sob a inspiração sagrada.
Quem pensa que é fácil escrever uma poesia verdadeira engana-se. Tente transformar em palavras seus sentimentos mais profundos e intuições mais remotas... Só mesmo sob a luz da inspiração e sabedoria é que surgem as palavras certas e plenas de verdade que irão compor a poesia. E era (é) essa inspiração e sabedoria que os bardos buscavam sempre que precisavam de respostas e orientações; encontrar e acessar a Inspiração fazia parte de seu treinamento.

Há um texto medieval irlandês atribuído a Amhaergin como autor, chamado de Caldeirão da Poesia. Nesse texto-poema fala-se sobre três caldeirões que existem em todo ser humano e são o Caldeirão da Incubação, do Movimento e da Sabedoria. A posição deles pode estar de lado, invertida ou para cima, dependendo muito do momento em que o indivíduo está vivendo e, principalmente, de seus sentimentos, ou seja, a alegria e tristeza. Se estivermos alegres os caldeirões se movimentarão para cima e isso é bom, pois a inspiração pode circular livremente por eles e transbordar para nossa alma e corpo. Se estivermos tristes, eles emborcarão e isso é ruim, pois dificulta a circulação da inspiração/energia e pode provocar doenças emocionais e físicas.

Acredito que a arte, em especial a poesia e a música, seja a linguagem por excelência do Sagrado. É pela arte sagrada que os Deuses, Antepassados e Seres da Natureza se comunicam com a gente, e que nós nos comunicamos com eles. Não é por acaso que a divindade era chamada de Óran Mhor, a Grande Canção, no cristianismo irlandês. E também não é a toa que num ritual ou festival celta, antigo e moderno, a presença da música, dança e poesia é tão forte.

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