"Creio na prática e na filosofia daquilo que convencionamos chamar de magia; creio no que devemos chamar de evocação dos espíritos - ainda que eu não saiba qual a sua natureza; creio no poder de gerar ilusões; nas visões da verdade no mais profundo da mente quando os olhos estão fechados. E creio em três doutrinas que foram, penso eu, transmitidas desde tempos remotos, e que constituem os alicerces de quase todas as práticas mágicas.
Tais doutrinas são:
1) que as fronteiras de nossas mentes estão sempre em movimento, e que muitas mentes podem mesclar-se umas às outras, por assim dizer, para criar ou revelar uma única mente, uma única energia;
2) Que as fronteiras de nossas memórias também estão em movimento, e que nossas memórias são parte de uma memória maior - a memória da própria Natureza;
3) Que essa grande mente e essa grande memória podem ser evocadas através de símbolos." – W. B. Yeats.
Seria legal se os magos da
realidade fossem iguais aos dos filmes, como em Harry Potter e Senhor dos Anéis.
Os mais desinformados começam a estudar paganismo ou “bruxaria” (prefiro não usar
esse termo, é muito pejorativo) achando que irão aprender feitiços para mudar o
tempo, levitar objetos etc. Só que não. Até que seria legal se pudéssemos arrumar
a casa ou fazer comida com um simples balançar da varinha... Mas não é assim
que a coisa que funciona. O que não quer dizer que por conta disso a vida
perdeu o encanto.
Os antigos enxergavam (e nós,
pagãos na atualidade, buscamos essa visão) a vida plena de magia. Nenhum pôr-do-sol
é o mesmo que o anterior, nenhuma rosa é igual a outra, e nenhum passarinho
canta igual ao outro. Há singularidade em cada momento de nossas vidas, em cada
lua, em cada amanhecer, em cada sonho.
Os antigos imbuíam de magia cada
ato importante. Ao raiar do dia dizia-se uma prece, ao preparar um pão
recitava-se uma canção, ao limpar a casa centrava-se os pensamentos e ao
acender a lareira proferia-se determinada oração. Mas se olharmos um pouco
esses atos importantes eram na realidade cotidianos. Então todos os dias e toda
ação eram mágicos, porque estavam imbuídos de gestos rituais, tornando-os
sagrados. Esse modo de viver preenchia a vida com um encantamento e sentimento
de plenitude que hoje nos são raros e extremamente necessários em nossa sociedade.
Eu entendo que magia é como estar
seguindo livremente e harmoniosamente o fluxo de um rio, sem impedimentos, sem
apegos, sem pesares... É seguir junto a correnteza, para onde quer que o rio
nos leve. Na verdade, não estamos só seguindo o fluxo do rio, somos o próprio o
rio. Magia não é mudar, mas seguir o curso da vida, adaptar-se e aproveitar da
melhor maneira as oportunidades que surgem em cada curva, descida, subida ou
obstáculo no caminho do rio. E com isso realidades podem ser transformadas e
desejos alcançados.
Viver com magia é estar em
sintonia com os rumos da Vida, e por isso as coisas simplesmente acontecem. É
estar aberto, receptível para as dádivas e sinais dos Deuses, e estando abertos
saberemos o momento certo de agir e como agir. É por isso que para mim magia
tem um pouco a ver com sorte. Pessoas destoantes do fluxo do rio, ou seja,
amarguradas, presas em sentimentos ruins, achando que nada de bom lhes acontece
e que todos estão contra ela, atraem exatamente esses acontecimentos.
Magia é enxergar as minúcias da vida,
a teia por trás dos acontecimentos, e enxergando a teia podemos não só compreende-la,
mas também interpretar, prever e transformar o rumo dos acontecimentos. E isso
implica não só em um privilégio, uma dádiva, mas, sobretudo, uma
responsabilidade em agir da melhor forma para o bem comum ou de pessoas
envolvidas.
Quando vivemos com magia nos
conectamos a algo muito maior, que gosto de chamar de Grande Teia ou Alma do
Mundo, sendo a intuição (ou inspiração) aquilo que nos liga a ela. É por isso
que podemos pressentir algo que está para acontecer, pois nos entrelaços da
teia a coisa de certa forma já aconteceu.
Magia é enxergar além do que os
outros conseguem ver. E por isso o mago, druida ou sábio é considerado meio
louco pelos que não veem nem entendem o que ele vê. E apesar de toda a
complexidade que a Grande Teia pode representar, quem vive com magia se encanta
com a simplicidade que dela pode sair. O nascer de uma planta entre o asfalto
da rua, o poente em tons de rosa e laranja escorrendo pela brecha da janela, o
vento que bagunça o cabelo e traz a lembrança de algo querido, a lua mostrando
sua face entre as nuvens, o brotar de uma semente na terra, a risada gostosa de
uma criança, o afago carinhoso de quem se ama.
Quem nunca acordou de um sonho
intenso com a certeza de alguma mensagem ali contida? Quem nunca escreveu um
poema ou texto cujas palavras pareciam ter simplesmente surgido inteiras na
mente? Quem nunca pensou numa pessoa e instantes depois recebeu uma ligação ou
mensagem dessa mesma pessoa? Quem nunca olhou pro céu e sentiu lá no fundo da
alma que aquela noite era mágica? Quem nunca se pegou cantarolando uma canção
criada ali na hora pela própria espontaneidade e leveza do coração? Quem nunca
ouviu uma música até então desconhecida, mas ao mesmo tempo tão familiar e que
toca o mais fundo da alma? ... Quem nunca?
Isso para mim é magia. E magia
talvez seja a essência do universo. Essência essa tão invisível, mas ainda
assim tão perceptível, forte e presente em todo o lugar.
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